quarta-feira, 12 de junho de 2013

A jornalista que cedo madruga



A ex-aluna Nathalia Vianna, editora do Bom Dia Brasil, conta sua rotina no programa, que começa às 5h da manhã, e avalia sua formação 


Priscila Peres Mondo

Nathalia Vianna, 25 anos, formada na UFF em 2011, é editora do Bom Dia Brasil e conta nesta entrevista um pouco de sua trajetória acadêmica e profissional, suas experiências e sua rotina de trabalho.  A jornalista me recebeu nos estúdios da TV Globo, no Jardim Botânico, onde, além do Bom Dia Brasil, também são gravados Globo Esporte, Jornal Nacional e Globo Repórter.

Em um ambiente que exige responsabilidade e seriedade, ela me apresentou os estúdios e ilhas de edição, não deixando de exibir simpatia pelos corredores. Cruzar com Marcio Gomes, Rodrigo Pimentel e outras figuras conhecidas que fazem parte do nosso dia a dia, inevitavelmente formou um sorriso bobo de canto de boca em uma estudante de jornalismo que pisava ali pela primeira vez.

Com um dia que começa às 5h de manhã na edição, Nathalia falou do dinâmico cotidiano nos bastidores do programa, que se divide em três etapas. A primeira consiste no fechamento na edição, processo que dura até às 7h30min, com o início do jornal. É o momento em que o profissional olha o espelho, se mantém atualizado sobre o que está acontecendo e finaliza o jornal até a hora de ir ao ar.

“É muito importante acompanhar os outros jornais, tanto impressos quanto de internet e TV. Assistindo ao JN, por exemplo, você sabe o que já é notícia, o que já se esgotou e o que não vai se esgotar. O grande desafio do Bom dia Brasil é sempre ir além, mesmo sendo tão cedo. Um desafio, visto que de manhã é mais difícil apurar os fatos, além de atuarmos com uma equipe mais reduzida”, explicou.

A segunda etapa refere-se ao jornal propriamente dito, enquanto está no ar. A terceira ocorre ao término da edição, quando editores do Rio se reúnem. Em uma sala localizada abaixo do estúdio do Jornal Nacional, discutem a pauta da edição seguinte, junto com as sucursais de São Paulo, Minas Gerais, Recife e Brasília. Decididas as pautas, o editor-chefe monta, então, o espelho.

“É muito importante acompanhar os outros jornais, tanto impressos quanto de internet e TV. Assistindo ao JN, por exemplo, você sabe o que já é notícia, o que já se esgotou e o que não vai se esgotar. O grande desafio do Bom dia Brasil é sempre ir além, mesmo sendo tão cedo. Um desafio, visto que de manhã é mais difícil apurar os fatos, além de atuarmos com uma equipe mais reduzida”


Em um jornal ao vivo, onde não se pode errar, Nathalia ressalta a importância da habilidade e do feeling do profissional em saber seguir e coordenar o roteiro que foi estabelecido, sem descartar o fator sorte: “É um misto de sorte, do repórter do outro lado, e da habilidade do coordenador. Não tem fórmula, também não é uma arte, mas é algo que vem da experiência e do feeling do profissional”, definiu.  

Nathalia iniciou sua carreira na TV Globo através do programa Estagiar, e desde então lutou para conquistar seu espaço e ganhar reconhecimento. “Eu sou muito coringa, porque durante o meu estágio acabei assumindo esse perfil. Achava que tinha que aprender de tudo e foi o que fiz. No começo é muita informação, você fica um pouco assustada, mas é normal, com o tempo você vai ganhando experiência, vai descobrindo qual o seu perfil. Aos poucos, fui descobrindo o que eu fazia melhor e em que o jornal precisava de mim. Meu próprio chefe, numa reunião, disse que o meu desafio era provar onde o jornal precisava de mim. E assim, eu fui galgando um espaço. Foi algo muito guerreiro, tem que correr muito atrás. Aqui tem espaço para todos os tipos de talento, só que é preciso ter iniciativa, correr atrás”, refletiu a jornalista. 

Como você vê o mercado de trabalho em TV para os estudantes que estão iniciando a procura por estágio, há espaço?
Pela TV Globo eu digo que tem, a Globo está sempre crescendo. O jornalismo na emissora agora está em um excelente momento. Hoje nosso ex-diretor de jornalismo, o (Carlos Henrique) Schroder, é o diretor Geral, algo muito positivo para o jornalismo. Ele veio da redação, e entende muito bem os processos técnicos envolvidos. O crescimento de emissoras concorrentes também faz estimular o mercado. Aqui na TV Globo, principalmente por conta de Copa e Olimpíadas, também vai aumentar o quadro, tem sempre gente nova entrando. O programa de estágio é bem bacana, é um processo que se consolida, tem realmente como intuito aproveitar o estagiário.

E você mesma é um exemplo disso, conseguindo chegar à posição atual iniciando a carreira como estagiária da casa.
Sim, e meu próprio chefe o Miguel (Athayde, diretor regional de Jornalismo da Editoria Rio) e também o Schroder começaram como estagiários.

Sobre o seu intercâmbio de seis meses no exterior, na Universidade Carlos III, de Madrid, o que você diria que valeu mais, a experiência cultural ou o curso em si?
Acho justo dizer que foi uma boa parcela dos dois. O ganho pessoal, não tem como medir. Os desafios que você enfrenta dependem de pessoa para pessoa. Eu sempre fui independente e descolada, mas apesar de saber falar espanhol, enfrentei dificuldades com a língua, por conta do sotaque, além de problemas financeiros por conta de um erro na minha conta do banco. Mas, eu também tive uma aula em particular, Jornalismo Internacional, que foi fantástica, com um professor que havia sido correspondente de guerra. Tive uma experiência acadêmica muito boa, muito feliz. Mas depende muito da pessoa em correr atrás e aproveitar o curso.

Como foi sua experiência em Israel, para fazer seu Trabalho de Conclusão de Curso sobre a experiência profissional de correspondentes internacionais em Jerusalém?
Foi uma experiência muito rica, eu já havia viajado durante o intercâmbio. Estive no Marrocos e lá tive contato com a religião islâmica, então não foi tão chocante, mas é um mundo completamente à parte. Israel é lugar muito seguro, o que me proporcionou fazer um paralelo com o Brasil, da visão que nós temos de lá e o que Israel realmente é, além da visão que eles têm daqui e o que o Brasil realmente é. Isto acontece porque só interessam jornalisticamente os fatos relevantes, que podem afetar sua vida, então o que vemos desses lugares são sempre notícias, normalmente ruins.

Sobre o curso de comunicação da UFF, você acha que faltou alguma coisa? Algum ponto poderia ser aprimorado para preparar melhor os alunos para o mercado de trabalho?
O curso da UFF é muito bom e tem um diferencial em relação a outras faculdades. Algumas possuem um currículo mais prático, mas o prático se aprende aqui, trabalhando. Vale muito mais a pena ter duas economias, duas lingüísticas, ter história. As outras também têm, mas nós temos mais, e isso é muito importante. Claro que aprimorar é sempre importante. Mas, dentro do possível, é um curso muito bom. Tem professores comprometidos, está dentro da realidade, não é algo mercenário. Também tive muita sorte de ter feito parte de uma turma que foi muito elogiada, no geral também muito compromissada, e isso estimulava as pessoas.

Você acha que o aluno da UFF é bem visto?
Aqui o estudante de Jornalismo da UFF é muito bem visto. Principalmente por uma coisa que, inclusive, me destacou na minha entrevista de estágio: ele é conhecido, em geral, por ser guerreiro, por estudar mais, o que mostra interesse. E o aluno tem base, tem conteúdo. Gosto muito da UFF, devo muito à UFF, é uma ótima instituição. Quem fizer direito e seguir o curso a sério, vai se dar bem. A UFF se preocupa com o aluno, os professores se preocupam. Você não fica largado, abandonado. A Sylvia (Moretzsohn), o (Guilherme) Nery, o Marco (Schneider), a Larissa (Morais), se importam com o aluno, com cada um, isso é muito legal, as pessoas precisam valorizar. É uma faculdade comprometida. O jornalismo na UFF é sucesso!

Qual a sensação de voltar à Universidade para contar as suas experiências àqueles que estão começando a trilhar o próprio caminho?
Fiquei muito contente, é uma honra, um elogio muito grande. E pensei que eu gostaria de ter tido isso quando estava na faculdade. Se o feedback no trabalho é importante, o feedback acadêmico também é.  O que acho muito legal nesse projeto é que ele funciona justamente como um retorno, um estímulo aos alunos. É importante para acreditarem em vocês, porque, de verdade, depende de vocês.

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