O repórter do
Fantástico fala sobre a escolha da carreira e conta os bastidores de suas
principais reportagens
Natália Nunes e Nathália Larghi
Há cinco anos como repórter investigativo do
Fantástico, Francisco Regueira, de 31 anos, já pode se considerar um jornalista
bem-sucedido. Com passagem pelos principais telejornais da Rede Globo, Chico
coleciona reportagens e prêmios de um veterano. Mesmo com pneumonia, Chico não
só topou conversar conosco, como nos deu detalhes dos bastidores de algumas de
suas mais importantes matérias, durante uma conversa com clima informal que
durou mais de uma hora. Falante e bem-humorado, o jornalista já chegou nos
contando sobre uma matéria com a blogueira cubana Yoani Sánchez, quando esteve
no Brasil.
Ele começou na profissão com apenas 15 anos, antes
mesmo de entrar para a faculdade, e nunca mais parou. Essa personalidade, unida
à vocação jornalística, parece uma boa pista para explicar porque ele já venceu
três vezes o prêmio nacional de jornalismo da Confederação Nacional dos
Transportes (CNT) e duas vezes o prêmio Tim Lopes de Jornalismo Investigativo.
Como e por que
você escolheu o jornalismo?
Eu comecei a trabalhar muito cedo, não tive aquela
dúvida pré-vestibular de “será que faço jornalismo, arquitetura, engenharia,
mecatrônica ou medicina?” Do lado da minha escola lá em Belo Horizonte tinha
uma favela e lá uma rádio. Um dia, eu fui fazer um trabalho do colégio sobre a
favela e conheci essa rádio. Achei muito bacana e participei de uns programas.
Até que fui convidado para fazer um programa sábado à tarde. Aceitei e então
comecei a trabalhar, com 15 anos. Aconteceu a mesma coisa com um canal de tevê
a cabo de Belo Horizonte. Fui convidado para fazer um programa de entrevistas e
trabalhei lá até 17 anos. Prestei vestibular e era óbvio que eu ia fazer Comunicação.
Então jornalismo não foi uma escolha, foi um caminho natural.
Quando você
começou a trabalhar na TV Globo, você já sabia que queria trabalhar na tevê ou
você migrou por outros veículos?
Apesar de a vida inteira eu ter trabalhado na
televisão, com essa curtíssima passagem pela rádio, a tevê foi algo natural. Eu
estudei na Universidade Federal Fluminense (UFF) e logo no primeiro período
soube de uma vaga de estágio não remunerado na CNT, e eu fui trabalhar lá assim
mesmo. Então, sempre foi televisão. Simplesmente aconteceu.
Como foi seu caminho
dentro da TV Globo?
Eu fiz o processo do Estagiar (programa de estágio da
Rede Globo) e fui trabalhar na editoria Rio do RJTV 1ª Edição. Fui contratado e
continuei trabalhando no programa. Depois fui pro Jornal da Globo, onde comecei
a ter mais autonomia, a fazer as matérias sozinho. Eu estava recém-formado. Na
Rede Globo são muitos telejornais, então à medida que você vai tendo ideias,
você vai para outros programas. E foi assim que eu fui fazendo meu caminho.
Objetivamente, eu migrava de um programa para outro. Eu era fixo na editoria
Rio, mas a partir de pautas e ideias, eu ia para outros programas. Até parar no
Fantástico.
Como você
enveredou pelo jornalismo investigativo?
No caminho profissional você vai desenvolvendo um
encantamento por alguns assuntos, que no meu caso, são mais ardilosos,
instigantes, perigosos e difíceis. No jornalismo você não é pré-disposto a
algo, simplesmente acontece.
Você que
introduziu a cobertura do Carnaval de rua do Rio de Janeiro na TV Globo. De
onde surgiu essa ideia?
Entre 2006 e 2007, o Carnaval de rua cresceu bastante
no Rio. Eu percebi que, na editoria Rio, a cobertura era muito restrita ao
Sambódromo e ao desfile das escolas de samba, que é a cobertura oficial. E isso
me chamava muito atenção, porque ao mesmo tempo em que a gente noticiava o
desfile, eu ia para rua e me divertia muito. Eu falei com o diretor de
jornalismo, o Renato Ribeiro. Ele gostou da ideia, então eu fiz um projeto para
a cobertura e nós abraçamos esse fenômeno.
Você fez a
reportagem "Rodovia do Medo" (vencedora do prêmio nacional de
jornalismo da Confederação Nacional de Transportes e do Prêmio Tim Lopes de
Jornalismo, em 2008). Como foi fazer esta reportagem?
Essa matéria foi facílima. Eu tinha uma fonte em Brasília,
que era de uma empresa de ônibus, que fazia o percurso Brasília - São Paulo. O
dono botou câmeras de seguranças nos veículos, então gravou assaltos que
aconteciam dentro dos ônibus. Ele me contou, mostrou as imagens e eu resolvi
fazer a viagem para realizar a matéria. Então eu saí daqui do Rio em direção a
Brasília numa quarta-feira de manhã. Com uma camerazinha na mão, eu embarquei
para realizar o trajeto. Cheguei a São Paulo quinta na hora do almoço, dormi, e
na sexta voltei para o Distrito Federal. Cheguei, voltei para o Rio e editei a
matéria. O objetivo da reportagem era mostrar como as pessoas que circulam por
aquela estrada percebiam o percurso, uma vez que a rodovia liga a capital do
país à cidade economicamente mais importante, e era a estrada mais perigosa do
Brasil naquela época, em 2008.
Em algum momento
alguma autoridade ou alguém tentou interferir?
Foi tranquilo. Autoridade não interfere não. Depois eu
entrevistei a Polícia Rodoviária, mas a título de cobrança, para saber porque essa
estrada, que é tão importante, está abandonada. Mas não houve interferência
nessa ou em alguma outra. Nunca teve.
Por causa da
reportagem da "Máfia dos Táxis" (vencedora do prêmio nacional de
jornalismo da Confederação Nacional de Transportes, em 2010) você passou um
tempo fora da cidade. Como foi a elaboração e lidar com os milicianos?
A ideia surgiu do seguinte: era 2010, eu estava um mês
fora do Rio gravando uma matéria sobre pirataria. Eu estava em um hotel fora do
país com o Alberto Fernandes, repórter cinematográfico, e vi noticiando em um
jornal estrangeiro que um taxista tinha sido
espancado no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. Quinze dias depois, a
gente volta pro Rio e, como não havia carro para nos buscar, pegamos um táxi.
Na conversa dentro do táxi, eu falei "você viu o espancamento do taxista
aqui no Galeão? Que covardia que fizeram com ele...". O taxista, no
entanto, não achou uma covardia e defendeu a posição dos taxistas, dizendo que
o cara que apanhou que era o errado, porque estava no lugar errado e tinha
feito coisa errada. Eu cheguei à emissora e disse que ia virar taxista no Rio
de Janeiro para fazer essa matéria. Eu tirei a licença com a prefeitura,
aluguei um carro e virei taxista por mais ou menos um mês. Então eu narrava o
que me acontecia, para mostrar justamente como funciona esse mercado da rua,
quem domina, quem são os verdadeiros donos da rua. Eu sabia de pontos que era
controlados e explorados capitalistamente por autoridades e policiais, mas eu
não sabia se eu ia conseguir mostrar. No entanto, não foi muito difícil. Todo o
processo durou cerca de três meses.
O tráfico de seres
humanos foi abordado na novela "Salve Jorge". Mas você levantou o
tema em 2008. Você conduziu, para noticiar, uma negociação de uma menina da mão
da própria mãe na reportagem “Meninas do Brasil” (vencedora do Prêmio Tim Lopes de Jornalismo Investigativo e
indicada ao Emmy Awards, em 2008) Como foi essa negociação? Deve ser doloroso pensar que alguém pode
colocar um preço no filho.
Foi uma das coisas mais chocantes que eu já vi. Eu e o
Beto (Alberto Ferreira) ficamos na Ilha do Marajó, entre idas e vindas para
Belém e Rio, uns três, quatro meses. Em Portel, nós ficamos um mês. É muito
triste. O pior de tudo era constatar que aquela mãe vendendo a filha não era um
fenômeno cruel, ela não enxergava assim. Quando você conversa com uma mãe que
bota a filha à venda, o sangue esquenta e você tem que se controlar para
segurar o cidadão e manter o repórter. O sentimento de indignação e impotência
é muito grande.
Como atuam os
intermediários desse mercado?
Quando a gente chegou à cidade, éramos claramente
forasteiros. Então a gente chegou, deixou a mala na pensão e, então, fomos
andar. Em dez minutos um rapaz abordou a gente, perguntando se queríamos
mulheres ou meninas. Eles falavam assim: "me digam que eu vou falar com a
porca (mães). Eu não negocio com as porquinhas (filhas)". Na época em que
eu estive lá aquilo era socialmente estabelecido.
Você teve contato
direto com a mãe?
Vários. Era mais difícil chegar lá, porque Portel está
a 60 horas de barco de Belém, e é o único meio de chegar – barco ou avião – então
é mais difícil chegar do que receber propostas de sair com uma menor
prostituída pela mãe. Naquela época, porque hoje eu sei que a história mudou
lá.
Depois da
reportagem qual foi a repercussão e o que mudou?
Depois que a gente colocou esse assunto no ar isso deu
muita repercussão. E é um lugar muito longe, é um lugar onde a autoridade
pública não chega, não tem nada. Depois que a gente veiculou essa matéria houve
uma Força Tarefa do governo do estado do Pará com a Polícia Federal e o Juizado
de Menores, que foram para aquela região como um todo. Eles começaram a olhar
esse assunto com muita atenção. E fizeram da Ilha do Marajó um polo modelo
contra a prostituição infantil. Um ano depois, eu tentei voltar pra fazer a
matéria e a situação era essa, no segundo ano também, isso em 2011. Ano passado
eu não monitorei, mas até 2011 a realidade tinha sido transformada e eu fiquei
muito feliz.
Deve ser
gratificante, pois a reportagem foi a engrenagem para isso.
É, porque ninguém nunca tinha olhado pra lá...
No fim de tudo,
quem dos que haviam negociado com você foram presos?
Todos foram presos, mãe e aliciadores. Depois, fizeram
uma CPI e foram presos juiz, vice-prefeito, presidente da Câmara dos Vereadores.
Metade da cidade foi presa depois da matéria. Foram vendo que haviam muitos
envolvidos. Porque ninguém vende uma menina sem o conhecimento de alguém.
A menina tinha
quantos anos?
Tinha treze ou catorze recém-completos. Eu não queria
mostrar ninguém que fosse muito menor de idade porque achava que seria muito
chocante. Mas meu limite era catorze anos porque é o limite de idade que os
cidadãos são protegidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.
Você fez a
cobertura da tragédia do Morro do Bumba. Como foi essa reportagem?
Foi punk. Eu acabei caindo por coincidência no Morro
do Bumba. Houve uma chuva gigantesca no Rio de Janeiro e eu morava no Horto, no
Jardim Botânico, e ia a pé para a tevê. Acordei cedo com a chuva, 6h30, liguei
a televisão e estava o (Marcos) Uchôa no Bom Dia Rio mostrando um rio, literalmente.
Fiquei chocado com o que vi no caminho de casa para a tevê, que é menos de um
quilômetro. Árvore caída para tudo que é lado. Quando eu cheguei à redação, só
estavam lá os que eram vizinhos da tevê. As pessoas que moravam no Leblon, na
Lagoa, na Gávea não conseguiam chegar. Nós não tínhamos muita notícia ainda e
sei que até 9h30 da manhã tinham quatro desaparecidos. De repente, o número foi
atualizado para 40 e às 10h já eram 48. Só ia aumentando o número de
desaparecidos.
Como você entrou
na cobertura?
Eu peguei uma equipe, um cinegrafista e um operador, e
saí. O Cadu (Carlos Eduardo Salgueiro), que era chefe de reportagem, ainda me
disse: “mas o que nós vamos fazer para o Fantástico, ainda é terça-feira...”. E
falei: “não sei, mas vamos pra rua”, sou da teoria que a notícia tá na rua. Fui
para o quartel central dos bombeiros para ver onde o trabalho deles estava mais
intenso. Eu expliquei que estava fazendo uma matéria, só que, é claro, em todos
os lugares onde eu chegava já havia equipes de jornalistas, e eu não queria
ficar onde todo mundo estava, eu queria ficar onde não tinha ninguém, para
contar uma história que ninguém contou.
Como conseguiu essa
exclusividade?
Eu falei que queria acompanhar o trabalho dos
bombeiros, ver como eles estavam trabalhando e pedi autorização. Fui para o quartel
do Fonseca, em Niterói, e comecei a acompanhar uma saída atrás da outra. Chegamos
às 3h da tarde e, quando deu 5h da manhã, a gente ainda estava lá, depois de
ter visto muita coisa feia, muita gente morta. Até que chegou um chamado para
resgatar algumas pessoas soterradas que pareciam estar com vida, perguntaram se
queríamos ir. É claro que queríamos. Entrei no carro dos bombeiros e fui até o
Morro do Bumba, passamos o dia lá. Até que a noite caiu e estava chovendo
demais, o comandante dos bombeiros disse que estava perigoso e que era melhor a
gente ir embora. Só que a gente desceu umas 7h30, foi o tempo de passar no
McDonald’s e pegar um “sanduba” que o rádio do carro deles tocou e falaram da
tragédia. Aí a gente voltou com eles, chegamos lá e estava tudo caído. A gente
subiu com os bombeiros. Aí vem até uma crítica a eles, mesmo sendo heróicos e
tal, mas eles não tinham luz de resgate, então você imagina, aquilo era um
breu, e o que serviu pra iluminar lá em cima era a luz da câmera do Lucas,
nosso cinegrafista.
Vocês ajudaram os
bombeiros?
A luz de salvamento foi a nossa luz. A gente lá em
cima trabalhando, andando de um lado pra o outro e muita gente do morro vinha
falar comigo, eu não entendia o porquê. Demorei a entender que estávamos no
mesmo lugar onde tínhamos passado o dia. Quando descobri que aquilo era o Morro
do Bumba tomei um choque. Eu percebi que as pessoas com quem eu havia passado o
dia estavam ali, eu estava pisando no chão onde elas estavam soterradas. Foram
vinte minutos de choque. Foi o tempo para eu me recompor e seguir a reportagem.
Foi uma coisa tão louca, indescritível...
Há um tempo, no
próprio Controversas, alguns repórteres que também cobriram essa e outras tragédias
estavam presentes e levantou-se uma questão da maneira como os repórteres
abordam as famílias das vítimas de grandes tragédias como essa. Qual a sua
posição nesse debate e como você costuma abordar as pessoas de modo que elas
não se sintam invadidas, ou seja, de uma forma mais sutil em meio ao caos?
Não tem muita ciência pra isso. Cada caso é um caso. O
que aconteceu no Morro do Bumba foi o seguinte, aquilo era uma comunidade
pequena e como eu passei o dia inteiro lá antes do morro cair, eu conheci todo
mundo. Eu cheguei às 9h da manhã e saí às 7h30 da noite e eu não sou um cara
calado, eu falo com todo mundo. Então aconteceu uma coisa muito curiosa, que
como eu tinha ido lá antes, a impressão que eu tive foi que para os moradores
de lá eu virei uma referência, eu era aquele cara que tinha ido lá antes de
tudo acontecer. Eu cobri as duas chuvas de Teresópolis e ali a situação foi
outra. Não tem muita ciência, você tem que ter bom senso e sensibilidade para
não extrapolar o limite da privacidade, da dor e também conseguir fazer o seu
trabalho.
E em situações
como essa no Morro do Bumba, por exemplo, os jornalistas procuram ou têm meios
de ajudar o trabalho dos bombeiros ou são mais úteis ficando à distância?
Não, geralmente ficamos à distância. Nesse caso a
gente participou indiretamente porque, por acaso, nossa luz da câmera ajudou os
bombeiros.
Você tem alguma
reportagem que é sua preferida? Que o fez pensar “Essa foi minha grande
reportagem”?
Sempre a próxima (risos).
No início da nossa
conversa você disse que estava fazendo uma reportagem com a Yoani Sánchez. Você
a entrevistou?
Eu passei a semana passada inteira com ela, eu a
acompanhei na viagem. Passei a semana com uma câmera pequenininha fazendo uma
reportagem sobre o olhar dela pro Brasil, como ela percebeu o país. É a Yoani
na intimidade, eu estou com ela em todos os lugares antes e depois de ela
passar por aquilo tudo que foi notícia durante a semana.
E o seu olhar
sobre ela?
Ah, eu achei ela muito “porreta”. Isso dá repercussão
porque tem um monte de gente que critica. Mas eu a achei uma mulher admirável e
muito corajosa, e acreditei na causa dela de liberdade pra Cuba. E ela segurou
esse rojão de estar comigo o tempo todo do lado gravando e em momento nenhum
fugiu de pergunta ou se contradisse. Eu fiquei com uma ótima impressão de Yoani
Sánchez.
Você já tinha
feito alguma matéria como essa ou foi a primeira vez?
Eu gosto muito de fazer essas matérias que eu chamo de
“diário da vida real”. Eu não faço sempre, mas já fiz algumas.
Com quem, por
exemplo?
Eu fiz uma que me marcou muito. Foi com um lixeiro que
trabalha no Centro do Rio e era autodidata em piano erudito. Na hora do almoço,
ele comia a marmitinha dele, depois ia ao Centro Cultural, se sentava no piano
e começava a tocar. Tocava uma hora, depois pegava a vassourinha dele e ia de
novo varrer.
Tenho muita informações sobre a locacom, incap, cccm deputado zoinho e muito mais. Faça contato comigo que vou te ajudar a desbaratar essa quadrilha.
ResponderExcluirPra te provar que sei muita coisa sobre eles vou te adiantar algumas coisas: a nilsa maria é mulher do famoso Renato Simões que foi secretário do governo Brizola e está sendo processado por desvio de dinheiro público. Eles pagam propina de até 30% aos prefeitos e secretários para fechar convênios. Projovem de Queimados é um exemplo o Max levou uma grana forte. A mentora de tudo ali é a mulher do simões, essa nilsa que arquiteta tudo eles já mamaram muito nas tetas do governo. É só investigar que você vai achar muita sujeira.Locacom, incap, ccm, redeshow, vitasupri é tudo deles ali é um cartel...
ResponderExcluir