domingo, 24 de fevereiro de 2013

Sem lenço e sem documento


Mercado de freelancer será um dos temas discutidos na quinta edição do Controversas

MÁRIO CAJÉ

Muitos jornalistas vivenciam uma dúvida cruel: escolher entre o emprego fixo, muitas vezes mal remunerado, e a adrenalina de garantir o sustento com trabalhos temporários, que têm potencial de gerar uma renda bem mais atraente. Trata-se de uma encruzilhada sem fórmula pronta.

A próxima edição do Controversas pretende ajudar a esclarecer os ônus e bônus de uma escolha tão importante.“O mercado freelancer” será uma das mesas de debate do evento. Participarão dela Cezar Faccioli (que já fez freelas para veículos como o jornal Brasil Econômico, a revista Exame e a Petrobras), Flávia Tavares (assessora especializada em grandes eventos), Carlos Vasconcelos (ex-assessor da Petrobras, ex-repórter do JB e atual colaborador do Valor Econômico) e André Arruda (ex-JB e jornal O Globo). Será a primeira mesa do último dia do evento, 6 de março.

Jornalismo freelancer será debatido no último dia do evento

Há uma série de portais na internet que oferecem oportunidades de trabalhos de curta duração. Um exemplo é o portal Prolancer, específico para a área de comunicação. Para o professor da UFF João Batista de Abreu, há quatro tipos principais de freelas, o que influencia diretamente o nível de seletividade diante dos projetos oferecidos. Abreu, que tem vasta experiência em projetos temporários, acha que apenas profissionais de uma dessas categorias são freelancers por opção.

“O primeiro grupo reúne profissionais que estão temporariamente desempregados e precisam pagar as contas até se realocarem no mercado. Outro tipo é quem tem um trabalho fixo, mas que precisa ou quer complementar a renda. Nesse caso, os trabalhos temporários não são a principal fonte de renda. O terceiro exemplo é o de quem está começando. Geralmente são recém-formados que fazem o que aparece como oferta de trabalho. Ainda há uma quarta categoria: o freela especializado, que cobre um tipo específico de assunto e geralmente tem clientes certos, boas fontes, muita experiência, alta credibilidade e reconhecida capacidade de análise. Desses quatro perfis, talvez o único que possa ser caracterizado como uma opção profissional seja o último. Só que se especializar cedo demais pode ser perigoso porque fazer um nome no mercado que permita esse nível de seletividade leva tempo”.

Para quem pensa em seguir por esse caminho, é preciso ter em mente os pontos positivos e negativos para que a decisão seja o mais consciente possível. Uma das vantagens é a possibilidade de negociar a remuneração, além do dinamismo e a menor dependência de processos hierárquicos. Mas o atrativo mais interessante, na opinião do professor, é a liberdade, que precisa estar vinculada a uma disciplina na organização do tempo. “Não destaco tanto a liberdade do texto, porque tudo estará, em última instância, condicionado ao cliente. Existe um discurso ilusório de que freelancer não tem patrão. Como você precisa fazer matérias sobre vários assuntos para ter uma renda razoável, é como se você tivesse vários patrões. Mas conseguir ser dono do seu tempo é o que mais atrai, só que é preciso ter muito cuidado: o freela geralmente trabalha em casa, onde há uma série de atrativos que podem conduzir à dispersão”.

Além disso, quem optar por essa independência, tem que estar ciente de que não terá garantias trabalhistas, como férias, 13º salário, licença-maternidade, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e previdência. Por isso, além de administrar bem o tempo, o profissional também precisa gerir bem suas finanças para ter recursos disponíveis em caso de uma doença e para não se desesperar quando o vigor já não for o mesmo.

O desequilíbrio entre oferta e demanda, realidade do mercado de jornalismo, faz com que ser freelancer se torne uma tendência profissional. Apesar de não ser o caminho adequado para todos, essa pode ser uma solução viável para quem é organizado e dinâmico. O que mais preocupa o professor João Batista, no entanto, é outra forma de prestação de serviços, que se torna cada vez mais comum na área. “O que é mais aterrorizante é a figura do jornalista PJ (pessoa jurídica), que é uma forma de chantagem porque a empresa exige horários rígidos e compromissos profissionais típicos de quem tem carteira assinada sem dar a contrapartida”, conclui.

Mas isso já é assunto para outro Controversas. A conferir.

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