segunda-feira, 4 de março de 2013

Duas faces da mesma moeda


Segunda mesa de debates explora diferentes aspectos da cobertura de um grande evento 
 
 
ANDRÉ COELHO
 

Nem tudo são flores em uma cobertura de um grande evento. Para que o espectador veja toda a beleza de uma olimpíada ou de uma copa do mundo, é preciso uma estrutura e um trabalho intenso para organizar um conteúdo de alto nível. A questão foi levantada pelos convidados da mesa de Grandes Eventos, segunda rodada de debates do primeiro dia do Controversas.

Para o jornalista Paulo Henrique Ferreira, do Lance!, é necessário que haja senso critico por parte de quem constrói a mídia no Brasil. “Com a proximidade dos grandes eventos, que são oportunidades profissionais únicas devido à sua raridade, um critério apurado é ferramenta importante”.

Outro ponto abordado foi a questão dos direitos de transmissão dos jogos. Para ele, a disputa entre emissoras de TV é algo que merece atenção durante a organização. Ferreira acredita que a cobertura será concentrada em quem tem os direitos e haverá, também, muita replicação de conteúdo. Mesmo assim, a produção precisa ser sustentável ao longo do tempo. “Isso inclui o bom uso de recursos, essencialmente, pensando em construir uma cobertura que não transforme o Jornalismo em entretenimento”, disse. Logo, é importante definir bem o limite entre os dois modos de produção.

Dario Leite, da Rede Record, destaca que sua emissora criou um sistema de cobertura específico para grandes eventos, o que inclui o deslocamento de centenas de profissionais para o exterior. Esse processo precisa contar com o apoio da estrutura construída pelos países sedes destinada aos jornalistas. “Uma emissora como a Record precisa ir umas quatro vezes ao exterior para monitorar essas estruturas. Isso tudo requer dinheiro, tempo, organização e um pensamento direcionado ao tipo de cobertura que será feita” afirmou Dario.

Mas o conceito de grande evento não se resume a eventos esportivos. Assessora da Approach, Fabiana Guimarães lembra que o mercado de comunicação se volta, também, a outros tipos de cobertura, como a do festival Rock in Rio, cujo plano de comunicação foi desenvolvido por sua empresa.  

Fabiana afirma que três aspectos são fundamentais para o planejamento da comunicação de um festival como esse: trabalhar para manter a marca na mídia ao longo do período que antecede o evento em si, a organização da imprensa e a relação com o público - e seus pedidos bizarros. “Até casamento e batizado já foram solicitados para nós. É muito importante conciliar o trabalho diário com as demandas ocasionais, por mais exóticas que sejam”, brinca. 

O mais experiente da mesa, Aydano André Motta, do Jornal O Globo, conta que cobre carnavais há 26 anos. Motta acredita que o carnaval carioca é um evento maior que eventos esportivos ou até mesmo o Rock in Rio. “Só na avenida são 48 mil pessoas desfilando e a bandidagem envolvida na organização também é enorme”. 

De acordo com o jornalista, para entender esses tipos de acontecimentos, é importante enxergar além do aspecto visual. “Não basta analisar a copa e a olimpíada do Rio isoladamente. Temos que considerar aspectos como a especulação imobiliária vivida pela região, por exemplo. Nada justifica o aumento absurdo dos preços dos imóveis do Rio e esse impacto tem que ser levado em conta. Não há grande evento que justifique altos preços de obras de infraestrutura – como a do Maracanã – e a destruição, por exemplo, de sítios arqueológicos” disse Motta. 

Uma cobertura jornalística precisa englobar mais do que o evento em si. Ela precisa ser abrangente ao ponto de transmitir ao público um panorama sobre o processo de construção daquele acontecimento, ao mesmo tempo em que mostra a realidade vivida por uma população antes e depois de sua organização. É o que pensam os debatedores, na esperança de que a ideia seja seguida pelas redações. 

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