segunda-feira, 4 de março de 2013

O poder e os limites do repórter investigativo


Jornalismo de investigação abre Controversas 2013 com foco na clássica polêmica dos limites da reportagem

MÁRIO CAJÉ
FOTOGRAFIA: BIANCA RANGEL 

“É chato, dá trabalho, é difícil e exige especialização. Mas é cada vez mais valorizado e bem remunerado nas redações porque agrega muito valor ao produto”. Esse é o jornalismo investigativo – tema da mesa de abertura do Controversas – na visão do editor da Folha de São Paulo Alan Gripp. Sob a batuta do professor Márcio Castilho, os debates também reuniram Elvira Lobato (ex-repórter especial da Folha de São Paulo e autora) e Francisco Regueira (repórter investigativo do Fantástico).

A preocupação com a atual dependência da tecnologia esteve presente nas falas de todos os palestrantes. “A tecnologia facilitou o jornalismo, mas ela é apenas um instrumento. Sempre gostei de ir para a rua”, disse Elvira Lobato, que também acha que o repórter investigativo é um predestinado: “Isso nasce com a pessoa, que vai em busca de respostas que não foram dadas, desconfia sempre, não se conforma com o primeiro argumento e tem uma curiosidade diferenciada. É um cara que quer saber o que tem atrás da primeira montanha. É um chato para o bem”.

Auditório lotado na mesa de abertura do Controversas
Além do problema que Francisco Regueira chama de escravidão tecnológica, o jornalismo investigativo envolve muitas outras questões delicadas. Os métodos de apuração, algumas vezes controversos, são o melhor exemplo. “A câmera oculta é o último recurso. Só é usada quando não é possível usar uma convencional. É claro que nunca se comete um crime para provar outro. Não ultrapassamos esse limite”, argumenta Regueira, que deu exemplos – que chamou de “extremos” – de quando o recurso precisou ser empregado.

Com câmeras e gravadores na palma da mão, essa discussão tende a se tornar cada vez mais cotidiana. Há alguns anos, as telas de celulares de alguns ministros foram fotografadas por jornalistas, revelando trocas de mensagens particulares, o que se configura como invasão de privacidade. “Depois de conversar com o departamento jurídico, chegamos à conclusão de que nesse caso prevaleceu o interesse público e a matéria saiu”, explicou Gripp.

A discussão dos limites do jornalismo investigativo e o – já gasto, para alguns - argumento do interesse público monopolizou os debates. “Acho que às vezes se cai num denuncismo, sem mostrar as estruturas que estão por trás de tudo. Até que ponto essa preocupação é real?”, perguntou João Pedro Soares, aluno do segundo período.

Para quem se acha vocacionado para a área, a mesa deixou preciosas dicas: se preparar cada vez mais cedo e mais rápido, buscar domínio técnico das diversas áreas de investigação, ter um método organizado de trabalho, e, principalmente, ter muita paciência.

“O jornalista tem que estar atento o tempo todo porque a informação chega de diversas maneiras. É o tipo de jornalismo mais estressante porque nem sempre as pautas rendem, mas isso não anula o esforço que foi feito”, explica Lobato. “Nas reportagens para tevê, é preciso reunir imagens. Muitas vezes, onde a apuração para um veículo impresso estaria terminando, a nossa estaria começando. Precisamos do flagrante, que requer tempo, gasto de sola de sapato. De 10 tiros, às vezes, dois dão certo”, completa Regueira, alertando os futuros profissionais no auditório lotado.

Aluna pergunta sobre os limites da utilização de câmaras ocultas




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