segunda-feira, 25 de março de 2013

Prêmio Controversas de Reportagem - 1º lugar




Ame-o e deixe-o ir aonde quiser
Nem alma, nem fruta. “Não somos metades de laranjas”, dizem os érrelis

Gustavo Cunha

Carregava um par de óculos de tipo aviador, desses que envidraça a porção superior do rosto. Protegidos pela grossa lente, os olhos míopes vagueavam de um canto ao outro, em ritmo inconstante, como se procurassem – pelas arestas da sala – as palavras que logo saltavam da boca. O batom vermelho-alaranjado destoava na pele branca, levemente maquiada. Entre sinuosas digressões (que fizeram parte do público grunhir que o debate não era propriamente terapia em grupo), a moça relatou a recente crise de relacionamento que vivera – ou ainda vivia. Sentada na primeira fileira da plateia, esperava alguma orientação.

Não devia passar dos 25, apesar de aparentar ser mais velha. Entre parte da testa e do cabelo loiro-oxigenado, um lenço colorido completava o nó enlaçado. Há algum tempo, mantinha uma relação aberta – e transparente – com o namorado: ambos combinaram que o sexo poderia ser livremente praticado: desimpedidos, cada um deitaria com quem desejasse. Lidaram bem com a igualdade de direitos. Mas, passados alguns meses, a namorada sentiu a voz da liberdade querer soar mais alto. “Por que não estar realmente livre, a ponto de se apaixonar por outras pessoas?”, questionou, empolgada, frisando o último verbo. A proposta, no entanto, não foi recebida com alvoroço pelo namorado. Muito pelo contrário. 

“Ele não entendeu. Não conseguiu entender direito o que eu dizia. Ele, ele que já estava no seu ter-cei-ro relacionamento aberto”, argumentou, gesticulando pausadamente as mãos. Ao fim, interrogou: “O que eu devo fazer?”. Reticente, ainda demorou a largar o microfone, depois de dizer: “Não quero fazê-lo sofrer”.

Numa quarta-feira chuvosa de novembro, no início da noite que antecedia um longo feriado, cerca de 40 pessoas se reuniram para um debate sobre “relações livres”, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, o IFCS, da UFRJ, no Largo de São Francisco de Paula, no Centro do Rio. A divulgação do encontro se deu exclusivamente pelas redes sociais na internet. O cartaz virtual dizia: “É possível amar e se relacionar com mais de uma pessoa ao mesmo tempo, com sinceridade e sem enrolação”. 

A Rede de Relações Livres tem como embrião dois pequenos movimentos do Rio Grande do Sul, formados entre a década de 1990 e o início dos anos 2000. Ambos debatiam e estudavam possibilidades não-monogâmicas de relacionamento afetivo – um de caráter essencialmente teórico, constituído por pessoas já estabelecidas em relações monogâmicas, e outro de caráter mais “prático”, formado por estudantes universitários. Em 2005, as duas tendências se equilibraram com a junção dos grupos. 

Conhecida pela sigla “RLi” (érreli, na pronúncia – maneira pela qual cada membro é chamado), a Rede de Relações Livres se tornaria “a primeira organização do Rio Grande do Sul a se dedicar exclusivamente ao tema do amor e da sexualidade em ações políticas e sociais de resistência à hegemonia heterossexual monogâmica”, como definiu a pesquisadora Mônica Araújo Barbosa, em dissertação de mestrado defendida na Universidade Federal da Bahia, a UFBA. 

Maria Fernanda Geruntho Salaberry é uma mulher extrovertida de 26 anos, com os cabelos pintados num vermelho-vinho, em tons escuros. Gaúcha de sotaque forte, revela um piercieng no centro da língua quando fala por tempo demorado. Participante da RLi, foi ela quem conduziu o “papo para novos amigos no Rio de Janeiro”, ao lado de Marcelo Soares, um dos seus companheiros – também um érreli do sul do país.

Em agosto do ano passado, os dois declararam em rede televisiva nacional – dos pampas à Amazônia – o modo como se relacionavam. À época, Maria tinha dois parceiros fixos, “pessoas que comumente chamariam de namorados”. Da mesma maneira, os dois homens também cultivavam relacionamentos com outras mulheres. Apresentador do programa Na Moral, exibido pela TV Globo, Pedro Bial fraseou um pouco, antes de lançar a primeira pergunta no ar: “Compartilhar a mulher com o amigo... Marcelo, você costuma emprestar o seu carro?”. O companheiro de Maria Fernanda não tem automóvel, mas disse que confia temporariamente a bicicleta aos amigos. O jornalista foi mais incisivo na questão: “Você não tem problema em compartilhar a sua mulher?”. Antes da resposta, Marcelo não pensou duas vezes: “Ela não é minha”. “Como eu vou compartilhar uma coisa que não é minha? Ela é ela”, afirmou, meneando a cabeça para a parceira.

A Rede de Relações Livres tem como principal objetivo mostrar que existem alternativas ao casamento monogâmico – e dar o amparo necessário às pessoas que desejam fazer a transição. “Queremos o fim da miséria monogâmica. Não toleramos subnutrição amorosa e carência afetiva; temos múltiplos amores, beijamos com prazer muitas pessoas e amamos no plural”, diz um texto no site.

Na sala de pé-direito alto, no IFCS, Maria Fernanda apontava para o canto direito do quadro-negro, enquanto afirmava: “Entendemos o indivíduo como um ser livre e autônomo. Portanto, é a partir de si mesmo que ele deve se estruturar”. Em pilot, estava desenhado um número considerável de bonequinhos-palito, “soltos e independentes no mundo”, como classificou. A ilustração se diferenciava dos outros rabiscos que o antecediam, categorizações de diferentes formas de relacionamento. Da esquerda para a direita, constavam, ainda que confusamente ordenados: monogamia, poligamia, swing, relação sem vínculo, relação aberta, poli-amor e relações livres. A última definição é uma conceituação do próprio grupo – “e talvez por isso ainda não seja tão conhecida”, explicou.

Os membros da RLi são contra quaisquer tipos de acordo que gerenciem a vida sexual e afetiva de outrem. “A nossa reivindicação não é amor”, esclareceu Marcelo Soares, numa conversa na véspera do embarque para a capital gaúcha. “A nossa reivindicação é a liberdade afetivo-sexual, inclusive para não querer amor nenhum”. Ao lado do companheiro, Maria Fernanda questionou a suposta liberdade em pactos monogâmicos: “Se tu és livre e tu gostas da outra pessoa, por que tu precisas fazer um acordo para que essa pessoa não possa mais gostar de ninguém?”. Marcelo ainda acrescentou: “Essa ideia de controle só faz sentido dentro da lógica monogâmica de que ‘se ela gostar de outra pessoa, ela pode deixar de ficar comigo’”. 

Há cerca de três anos e meio que o rapaz magro, de pele alva e cavanhaque avolumado pensa – e age – dessa maneira. Na virada de 2007 para 2008, transformou uma pesada dor de amor em motivo de longas elucubrações sobre a própria dor. Estava no sítio de um amigo de Maria Fernanda (então apenas colega do cursinho pré-vestibular), distante alguns quilômetros da namorada, que optara passar o Réveillon com a família, em Santa Catarina. Marcelo ficou muito mal com a ausência da amante na festa de Ano Novo – “bem coisa de bêbado, chorando triste pelos cantos”, como descreveu. No dia seguinte, Maria Fernanda sentou para conversar com o colega. Falou sobre amor, contou sobre a Rede de Relações Livres, e “desconstruiu uma série de conceitos que eu tinha como certos”, lembrou. Pouco tempo depois, o relacionamento de Marcelo acabou, e o rapaz apressou-se em conhecer mais a fundo o grupo sobre o qual Maria Fernanda havia comentado.

Na primeira “reunião para novatos”, Marcelo se deu conta de que realmente não iria amar uma única pessoa para o resto da vida. A filosofia da alma gêmea, até então levada ao pé da letra, se converteu em mero mito, falsa verdade. Entendeu que “cada pessoa é um ser completo, não a metade de outro” – e que todas as relações devem ser guiadas pelas leis da amizade: quanto mais, melhor. Sobre isso, Maria Fernanda justificou, numa simples comparação: “Num relacionamento monogâmico, um pilar segura um prédio de 20 andares. Na relação livre são vários pilares que seguram um prédio inteiro. Portanto, se um desaba, o prédio ainda se mantém”.

Quando sentem-se à vontade, Maria Fernanda e Marcelo contam um para o outro sobre os outros relacionamentos que cultivam – ou cultivaram. Mas nada é posto como obrigação. “Se eu quiser ficar com um amigo, com um primo, com um vizinho ou com a avó dele, eu posso, porque eu sou autônoma”, disse a companheira, gargalhando um pouco, em seguida, ao indagar: “Bom, se eles vão mesmo querer ficar comigo, aí é outra coisa”. Uma das maiores dificuldades encontradas pelo casal é lidar com indivíduos estabelecidos na monogamia. “As pessoas estão tão confortadas com a traição que elas entendem se eu estou traindo o Marcelo. Se eu disser ‘olha, vá lá pra casa, mas de manhã tu sais quando o meu marido chegar’, os caras topam. Se eu falar ‘vamos lá pra casa, o meu companheiro está lá, ele é um cara muito legal’, bate um pavor, e a galera fica aterrorizada”, exemplificou.

Mas quando vocês tem relações com outras pessoas, o outro pode estar em casa normalmente? “É claro”, respondeu Marcelo, com naturalidade. “Só o lance da cama é que a gente combina”, adicionou. De uma forma geral, para o grupo, o ideal é que cada um tenha o próprio espaço – para que haja, de fato, autonomia. “Mas a situação financeira é outra; não permite”, ponderou Maria. De qualquer maneira, os dois costumam se dar muito bem com os outros parceiros de cada um: conversam, batem papo, fazem sala, preparam jantar. “Se eu tenho namorados que são muito legais, por que não apresentá-los?”, interrogou.

Autora do fenômeno editorial dos anos 90 A Cama na Varanda, a psicanalista Regina Navarro Lins desconstrói a ideia de que o amor é algo universal e atemporal na recente obra O Livro do Amor, dividida em dois volumes. “O amor é uma construção social que em cada época se apresenta de uma forma”, explicou, em entrevista ao jornalista Roberto D’Ávila, na TV Brasil, no final de novembro.

De domingo a domingo, a carioca que já deu aulas no curso de psicologia da PUC-RJ lança frases relacionadas ao tema no Facebook e no Twitter. Citações de pensadores, como a do antropólogo francês Jacques Ruffié, ao falar sobre a monogamia: “O hábito acarretando ao mesmo tempo exigência e tédio gera uma tendência à separação”; declarações do tipo “As pessoas não amam umas às outras, mas o fato de estar amando”; ou interrogações polêmicas, como “Não posso transar com outro homem só porque estou casada?” geram um sem-número de curtições e compartilhamentos pelas redes sociais. Em alguns casos, comentários discordantes produzem efusivos debates entre os usuários.

Referência teórica para a Rede de Relações Livres, Navarro Lins esteve presente no encontro anual “Universo Livre”, em novembro, em Porto Alegre. Consonante com o discurso do grupo, a pesquisadora acredita veementemente que o amor romântico, idealizado – “que prega a ideia de que duas pessoas vão se transformar numa só” –, tem os dias contados, mesmo que ainda persista nas novelas. “A busca da individualidade, que caracteriza a nossa época, nos leva por um caminho oposto às propostas deste tipo de amor”, escreveu, em conclusão ao segundo volume do novo livro. Parágrafos a frente, a autora vaticina: “A ideia de que um parceiro único deve satisfazer todos os aspectos da vida tem grandes chances de se tornar coisa do passado”.

Pesquisadora do comportamento humano e da atração romântica interpessoal, a professora de antropologia Helen Fisher, da Rutgers University, em Nova Jérsei, nos Estados Unidos, concluiu que a alta quantidade de relações extraconjugais é um indício da força da natureza contra a cultura. “Dezenas de estudos etnográficos, sem mencionar inúmeras obras de história e de ficção, são testemunhos da prevalência das atividades sexuais extraconjugais entre homens e mulheres do mundo inteiro. Embora os seres humanos flertem, apaixonem-se e se casem, eles também tendem a ser sexualmente infiéis a seus cônjuges”, disse, certa vez.

Em 2010, pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, revelaram um aumento significativo no número de divórcios no país. Se em 1984 a taxa geral de separações era de 0,5%, em 2010 a porção atingiu 1,8% - ou seja, para cada mil pessoas de 20 anos ou mais, foram registrados 1,8 divórcios. 

O mesmo quadro de mudanças matrimoniais é acompanhado pelo crescimento vertiginoso de espaços virtuais para homens e mulheres casados a fim de relações extraconjugais, “em busca de um caso ou uma aventura emocionante”, como explica a versão brasileira da página Second Love. No Brasil, em apenas uma semana, o site de relacionamentos americano Ohhtel, comprado recentemente pela rede Ashley Madison, atingiu pouco mais de 63 mil usuários, superando os cerca de 11 mil nos Estados Unidos, nesse mesmo período de sete dias. Classificado como “líder mundial em encontros discretos para pessoas casadas”, o site tem o seguinte slogan: “A vida é curta... curta um caso”. 

Para muitos, a dedução que se tira disso é simples: o brasileiro está entre os povos mais infelizes do mundo no casamento, e é um dos mais afoitos para pular a cerca. No IFCS, ao fim do debate, uma senhora de aproximadamente 70 anos, na plateia, não apressou o seu relato ao avistar os funcionários da limpeza entrarem na sala, indicação de que o encontro chegava ao fim. Viúva, disse rebater constantemente as reclamações dos filhos, que a aconselham a arranjar um homem, um companheiro de vida que permaneça com ela até a morte. “Mal sabem eles que eu sempre fui adepta das relações livres, mas é claro que sem o pai deles saber”, afirmou – e estampou um sorriso no rosto moreno. Com os corpos encostados na parede, e vassouras firmes nas mãos, as faxineiras lançaram risos tímidos umas as outras, em coro às gargalhadas da plateia.

Prêmio Controversas de Reportagem - 2º lugar




Jogo com portões fechados: da oportunidade ao engodo nas peneiras e sonhos do Futebol

Douglas Nascimento

Em alguns casos a esperança de se conseguir uma oportunidade se carrega na mochila. Ao lado dela vai um meião, um short preto e uma camisa branca, além da chuteira surrada e com arranhões que só um campinho de terra batida poderia ter causado. Assim acontece com Lucas Souza, de 16 anos, que mora entre Duque de Caxias e São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Lucas, que vive com a avó, faz parte de um grupo não tão seleto de garotos que sonham em se tornar, um dia, jogador de futebol. Em sua última noite de sono, ansioso pelo dia seguinte, quase não dormiu. Uma peneira no Aterro do Flamengo o aguardava. Ele é um dos inúmeros jovens que ainda sonham em virar estrela, e a porta de entrada dessa vez seria o Projeto Joga Fácil 2012, realizado nos campos da Zona Sul carioca.

Lucas cresceu jogando futebol na rua, descalço e com a bola que ele ou algum conhecido arrumasse. Logo despontou entre as crianças do bairro. Ganhou o apelido de Robinho nos anos áureos do jogador, mas hoje é comparado a Neymar – e não é pela aparência, o garoto realmente sabe o que fazer com a bola. Líder do time da escola, Lucas se destacou nos últimos Intercolegiais da cidade e, perto de casa, conseguiu uma vaga num time de várzea onde disputa competições em meio a marmanjos de 30 anos de idade. Ele realmente é diferenciado.

Ao chegar ao Aterro, Lucas enfrenta uma longa fila até marcar sua presença na peneira, para a qual já tinha feito uma pré-inscrição online. Em meio aos mais de 400 garotos entre 15 e 25 anos, Lucas não é nem Robinho nem Neymar, é só mais um. E depois de uma pequena reunião entre os organizadores, jogadores e pais presentes, a primeira dificuldade aparece: a peneira que a princípio seria gratuita agora teria uma taxa – 40 reais a serem pagos no segundo encontro, no próprio Aterro do Flamengo, de onde os garotos pegariam um ônibus para ir a São Gonçalo jogar em outra etapa dos testes. “Falam que o teste é de graça e depois que a gente tem que pagar. Tem que ver isso aí!”, reclamou Rafael Cruz, 19 anos, que saiu do Cantagalo e, acompanhado da mãe, abandonou a peneira antes mesmo de jogar.

Acompanhado de cinco amigos, que também disputariam uma vaga, Lucas não desistiu. Entrou no campo de grama sintética e na escolha de atletas acabou sendo selecionado para o primeiro jogo das séries. Como o esperado, não decepcionou na atuação: Se movimentou, se apresentou, finalizou sem sucesso uma vez ao gol e de todos os jogadores em campo mostrou ser o que mais tinha habilidade. Driblou muito e até esqueceu que futebol era um esporte coletivo. Exatos 15 minutos após o apito inicial acontecia o rodízio de todas as posições dos dois times em campo. Assim terminava a participação de Lucas no primeiro dia de peneira. Se realmente havia algum garoto talentoso naquela primeira partida, este não foi descoberto. Se realmente havia um bom olheiro orquestrando aquilo tudo, este não descobriria ninguém. Não em 15 minutos de futebol.

Depois das primeiras partidas a impaciência com os métodos aplicados parecia se alastrar entre todos os presentes. Augusto Santos, de 61 anos, levou o neto para jogar, o goleiro Cesar – “Realmente se não tiver um pistolão tudo fica mais difícil. Hoje em dia é assim. A gente sai lá de Nilópolis para vir aqui ver meu neto não jogar nem meio tempo e ir embora. A bola nem chegou ao gol dele direito”. Lucas, por outro lado, parece preferir abstrair os fatos. Sai de campo sorridente, falando que “deu para brincar”, reclamando do lateral direito de seu time, que era muito ruim, e lamentando que seu pai não iria pagar mais um dia de passagem e 40 reais para ele continuar a seletiva. Assim como Rafael Cruz, que foi embora antes de jogar, Lucas agora fazia parte dos garotos que tiveram, pelo menos por um dia, o sonho destruído.

Portões fechados, ingressos caros

Se destruir sonhos não é o objetivo de ninguém, certamente se aproveitar deles é uma opção. O Projeto Joga Fácil 2012, que organizou as peneiras contando com a ajuda de ex-árbitros sem expressão e técnicos de futebol de base, se apresenta em seu site convocando jovens a participarem gratuitamente dos testes, de onde sairiam cinco jogadores para fazer testes no Botafogo, em General Severiano – uma peneira que levaria a outra peneira –, e outros 60 atletas fariam uma excursão a Marília, em São Paulo, onde disputariam a Copa Nacional de Futebol com o Clube Atlético Carioca. 

A necessidade de uma porta de entrada antes mesmo de um clube bem estruturado é justificável. As dificuldades de ir diretamente a um clube da primeira divisão ou segundo escalão do RJ são muitas. Além da acentuada concorrência – as divisões de base do Fluminense, por exemplo, recebe em seu CT de Xerém até estrangeiros, além dos garotos que chegam de todas as regiões do país para tentar a sorte no Clube –, existe também a dificuldade financeira. Essa última se desdobra em duas vertentes. A primeira é com relação à carga de testes, pois geralmente um jogador não passa para um grande clube na primeira tentativa. Contudo, nem todos têm a capacidade de fazer um investimento em vários testes, que em média custam entre 30 e 80 reais cada. A segunda diz respeito à impulsão financeira ao acesso e visibilidade do jogador – mais conhecida como empresário.

Pedro Ortega, 22 anos, é um desses casos. O jogador não deu certo no futebol mesmo com todo seu talento – e incentivos. Ele começou no Barcelona do RJ, clube financiado por empresários para promover talentos. De lá, sempre ajudado por agentes –já aos 15 anos o jogador de classe média de Duque de Caxias tinha três deles –, Ortega passou pelas equipes de base do Fluminense, Portuguesa/RJ, pelo futsal do Flamengo e chegou a fazer um tour pela Europa, onde fez testes na Itália e Espanha. Ele tinha até um DVD com lances e jogadas incríveis. Nada deu certo. Contudo, a experiência de Ortega revela uma estrutura montada à margem das grandes competições, em que clubes de menor ou quase nenhuma expressão semeiam sonhos e oportunidades para todos os tipos de jovens, independente de classe social – nem todo empresário é pago, porém, nesse caso, em que o jogador não tem poder aquisitivo, o “investidor” se torna dono de praticamente todo o passe de sua promessa.

Da oportunidade ao engodo: Os especuladores de sonhos

Em visita ao site do Atlético Carioca, que buscava futuros talentos no Aterro do Flamengo através do Projeto Joga Fácil, é possível perceber que o clube realmente está recrutando jovens para ir a Marília, onde acontece a Copa Nacional de Futebol. O evento, que acontece anualmente, tem instalações próprias e conta com alimentação, traslado e hospedagem para os atletas – tudo pago, no final das contas, pelos próprios atletas. Por 299 reais mais a taxa de inscrição, que custa 50, qualquer atleta sem clube ou experiência em qualquer divisão de base pode participar da Copa Nacional. A vitrine, vendida a altos preços, se sustenta com a promessa de que olheiros de grandes clubes estarão presentes e acaba pescando muitos jogadores que sonham ser descobertos lá. 

Da peneira no Aterro do Flamengo à Copa Nacional de Futebol, em Marília, há uma linha tênue entre o que é oportunidade e o que é engodo – e até poderia ser classificado como estelionato. Afinal esses vendedores de esperança têm demanda e encontram campo fértil entre pessoas como Carmem, 53 anos, que já no Aterro do Flamengo ponderava os sacrifícios que fez para tentar algo para seu filho – e para si própria. “Quando ele me falou que o teste seria hoje eu não pensei duas vezes, respondi que ele não iria perder essa chance. Faltei ao serviço só para trazer ele aqui. Amanhã eu levo um atestado para justificar. Nós temos que acreditar sempre, até porque, quem sabe eu não fico rica?” – declarou a moradora de Vigário Geral, que enxerga no futebol do filho sua chance de ganhar dinheiro. Mal sabe ela que cerca de 60% dos jogadores em todo o país recebem um salário mínimo como profissional federado, uma realidade ofuscada pelo status da profissão que ostenta salários astronômicos em alguns clubes da primeira divisão nacional.

Gente como Carmem pode estar sendo vítima de slogans chamativos que se aproveitam desse tipo de sonho. Para se justificar antes mesmo da acusação, o Projeto Joga Fácil estampou em seu site uma frase em negrito, na cor vermelha e em caixa alta – “Não caia em falsas promessas, somos os únicos com CNPJ”. No Atlético Carioca, uma linha sublinhada e com letras gordas traz a frase “Já pensou em ser jogador profissional?”, seguido por um texto descritivo de um evento “respeitado e conceituado no mundo do futebol”, a Copa Nacional de Marília. De maneira um pouco mais engenhosa que os golpes telefônicos, os especuladores de sonhos atraem jovens oferecendo a oportunidade de saltar nas cifras do mundo do futebol. Talvez um ou outro consiga passar numa peneira, talvez até ser descoberto por um olheiro – daí a “ficar rico” é outra história. Todos os outros só vão engordar ainda mais o exército de promessas que ficaram pelo caminho.

Prêmio Controversas de Reportagem - 3º lugar





Onde estão eles? 


Elena Batista Wesley

Caminhe pelos corredores do seu campus, vasculhe no banheiro, na copiadora, na biblioteca. Vai encontrar bem poucos, talvez nenhum. E, pensando bem, por que seria diferente? Se a ausência é nítida no curso de idiomas, na academia, não seria a universidade uma exceção.

Bastaria um breve passeio em qualquer universidade federal do país para constatar que as estimativas de negros nas instituições públicas de ensino superior não são mesmo muito animadoras. Embora representem, junto com os pardos, 50,7% da população – cerca de 97 milhões de pessoas, de acordo com o censo 2010 –, um levantamento da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) publicado em outubro de 2012 aponta apenas 8,8% de negros e 11% de pardos nas universidades federais. Antes do estabelecimento dos primeiros sistemas de cotas, os dados eram ainda mais alarmantes: segundo o IBGE, o percentual de jovens afrodescendentes no ensino superior beirou os 3% entre 1997 e 2007.

Se os negros estão em falta nesses espaços, os alunos egressos de escolas públicas não ficam de fora do grupo dos excluídos. Informações referentes à seleção de 2010 da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) revelam que 66% dos aprovados com conceito A e 67% com B nos exames de qualificação saíram de instituições privadas. Sedenta por alcançar o espaço destinado à minoria, Fernanda Ribeiro busca uma vaga para o curso de Jornalismo da Uerj, por meio da cota para alunos da rede pública. A estudante está, pela segunda vez consecutiva, em uma turma de pré-vestibular comunitário em São Gonçalo e assinala a diferença entre as instituições e as dificuldades enfrentadas em sala. “Independente do lugar onde o colégio está localizado, do nível dos professores ou do interesse dos alunos, o conteúdo, a maneira como se ensina e como se cobra na instituição pública são totalmente diferentes da privada. Por sempre ter estudado no colégio público, sentia que, enquanto os professores [do pré-vestibular] revisavam um assunto em Química, Física ou até mesmo nas Humanas, a minha área, eu estava, na verdade, vendo aquele assunto pela primeira vez. E não tem como negar, isso atrapalha bastante”, declara Fernanda.

Apesar de os números apontarem a ausência de uma relevante parcela da população na universidade, as tentativas de democratizar o ensino superior ainda não alcançaram unanimidade. Em abril de 2012, muros próximos à federal mineira apareceram pichados com os dizeres racistas “A UFMG vai ficar preta”. O episódio ocorreu poucos dias após a decisão do Supremo Tribunal Federal de legitimar o modelo adotado pela Universidade de Brasília (UnB), que reserva 20% das vagas a candidatos negros.

Manifestações contrárias à democratização do ensino superior também partem de fontes conhecidas pelo grande público. Baseados em opiniões pessoais ou ideológicas, partidos, intelectuais e meios de comunicação têm atacado as principais políticas de ações afirmativas, principalmente as étnico-raciais. Em 2007, a revista Veja dedicou uma edição ao caso dos gêmeos idênticos Alan e Alex, no qual um conseguiu a vaga pelo programa de cotas da Federal de Brasília e o outro foi considerado “branco”. Um ano depois, a publicação lançou um guia de perguntas e respostas anticotas. A revista, porém, não é a única. De acordo com o estudo “Imprensa e Racismo: uma análise das tendências da cobertura jornalística”, da ANDI - Comunicação e Direitos, a maioria das entrevistas veiculadas nos grandes jornais reforça a opinião contrária às cotas raciais.

Perto de se formar em Psicologia pela Uerj, Marceli Rosa explica que escolheu concorrer às vagas reservadas a alunos egressos de escolas públicas, apesar de ter direito a pleitear as cotas raciais. “Não creio que oferecer estes benefícios [aos negros] agora compense os séculos de escravidão. Uma política educacional de inclusão abrangente pode ser mais proveitosa”, argumenta. Juliana Ferreira, 17 anos, discorda de ambos os mecanismos. A estudante acaba de concluir o Ensino Médio no colégio particular MV1 e, além das aulas regulares, dedicou-se no curso preparatório da Rede Elite de Ensino. Para ela, a cota racial é uma forma de preconceito, pois “cor não define inteligência”. Quanto às cotas sociais, opina: “Cada pessoa deve acreditar no seu potencial e não no da escola. Se o aluno se esforçar de verdade pela vaga, ele conseguirá entrar na faculdade”.

Pioneira na implantação das cotas, a Uerj tem servido de parâmetro para os favoráveis à política. A adoção do programa veio em 2003 por meio de um decreto do governo e, em dez anos de vigência, já é possível notar a diferença. O advogado Vítor Lucena fez parte da primeira turma de Direito com alunos cotistas da Uerj e conta como ocorreu o período de transição. “Foi interessante ver um curso de elite ter que se curvar a uma universidade mais popular e mais negra. Havia e ainda há preconceito velado, mas o convívio ajudou a diminuir a discriminação”. Vítor advertiu que a universidade ainda está longe de ser um espaço democrático racial e socioeconomicamente. “Ainda persiste o mito da meritocracia, de que o vestibular é uma seleção dos ‘melhores’. Na verdade, é uma universidade pública para pouquíssimos”, salienta.

Em 2008, uma análise quantitativa divulgada pela Uerj revelou que as taxas de reprovação e evasão de curso são menores entre os cotistas em comparação aos demais matriculados. Além do esforço dos estudantes, as políticas de apoio à permanência contribuíram para o resultado, mesmo que ainda sejam incipientes. “Desde o início do curso recebo uma bolsa para auxiliar nos gastos com transporte, xerox, essas coisas, que faz parte de uma ação de inclusão para estudantes sem recursos”, afirma Tadeu Goulart, cotista da rede pública na Uerj. Para o futuro jornalista, o programa precisa agregar mais incentivos, como projetos para a primeira oportunidade de estágio, aumento das bolsas e construção de alojamentos e bandejões. “Quem tem uma bolsa de permanência não pode participar das de pesquisa ou de extensão. É longo o caminho para o ensino superior que sonhamos, no qual as pessoas pobres possam realizar o sonho de fazer uma faculdade gratuita e de qualidade”, enfatiza.

Junto aos números sobre o bom desempenho dos alunos cotistas, o estudo apontou discrepâncias entre os dois grupos, principalmente quanto à renda familiar e à escolaridade dos pais. Por mais estranho que possa parecer, contrários e favoráveis à política de cotas possuem um argumento em comum: a grande vilã do acesso dos negros e pobres ao ensino superior é a má qualidade da educação básica. O status dos ensinos Fundamental e Médio da rede gratuita não passa nem perto do ostentado pelas universidades públicas. Enquanto as últimas são consideradas um modelo de excelência, os primeiros sofrem com o descrédito, verificado na falta de professores das principais disciplinas, grande evasão de alunos e péssimas notas no Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem.

A realidade já não assusta quem lida com o descaso todos os dias. “A prova do Enem é fácil, não exige conteúdo. Se as escolas públicas têm ido tão mal, imagine como está o ensino. Não há políticas públicas para as escolas, os professores estão desmotivados. Eu não aconselho ninguém a matricular o filho em escola pública”, assevera Denise Nunes, que leciona em ambas as redes e em cursos de pré-vestibular. A professora assegura que as cotas são uma boa medida, mas insuficientes para corrigir “anos de falência do ensino público”. Denise afirma que um estudante da escola pública dificilmente ingressa na universidade sem frequentar um pré-vestibular. Segundo informações do questionário socioeconômico da Uerj, em 2007, 57% dos cotistas da rede pública e 58% dos negros e indígenas afirmaram ter frequentado algum tipo de curso preparatório. Denise acrescenta que o próprio governo estadual reconhece a má qualidade do ensino e financia “prés comunitários”, coordenados pelo Cederj, que oferece aulas gratuitas em 39 municípios do estado, a quem já concluiu ou cumpre o último ano do Ensino Médio em rede pública e não tem recursos para pagar um pré-vestibular privado.

A aprovação da Lei de Cotas pela presidente Dilma em agosto de 2012 adicionou mais uma dose de polêmica ao debate. A legislação prevê que, num prazo de quatro anos, todas as universidades federais reservem metade das vagas a ingressantes que cursaram o Ensino Médio na rede pública com corte de renda familiar de até R$ 933 por pessoa. Negros e indígenas estão inclusos e o percentual específico deve ser definido conforme os números destas populações em cada estado. As medidas desagradaram até mesmo quem tem lutado pela adoção do sistema. A vice-presidente da Associação dos Docentes da UFF (Aduff-Ssind), Elza Dely, compreende que a unificação da quantidade de vagas interfere na autonomia das instituições e implicará no prejuízo de alguns modelos de cotas já vigentes. “A federal do Pará, por exemplo, reserva metade das vagas a alunos de escola pública e, deste número, 40% se destina a negros e indígenas. Acatar a proposta do governo será um retrocesso”, argumenta. Coordenador da organização antirracista Círculo Palmarino, José Makaíba questiona o que chama de “aprovação tardia”: “Me pergunto por que decidiram somente agora. Esta é uma reivindicação histórica do Movimento Negro, que foi cortada do texto original do Estatuto da Igualdade Racial, em 2010.

Guardadas as diferenças quanto à porcentagem de vagas, os modelos implantados pela Uerj e pelas federais se assemelham. Ambos surgem para atender às exigências dos movimentos sociais, porém sem diálogo com a comunidade acadêmica. O método arbitrário, no entanto, não ofusca a relevância da decisão, que simboliza a concretização de sonhos outrora impossibilitados por um regime de ingresso injusto, cuja existência é questionável. Uns terão assegurado o direito de acesso à educação de qualidade aos cursos mais concorridos do país, alguns finalmente poderão tornar-se o primeiro membro da família a ir além do Ensino Médio, e outros, que enxergavam a faculdade como “coisa de bacana”, perceberão que aqueles corredores nunca quiseram fazer acepção de classe, cor ou região de origem. Os racistas, por sua vez, terão de aceitar que, ao contrário do conteúdo das pichações no Rio Grande do Sul, lugar de negro não é apenas na cozinha do bandejão. “A neutralidade estatal” - como discursou o ministro do STF, Marco Aurélio de Mello, durante a votação das cotas - “mostrou-se nesses anos um grande fracasso”, mas ainda há braços cruzados à espera de uma revolução súbita e espontânea na educação pública básica. Estes e aqueles ficarão surpresos quando as portas da universidade se abrirem, quando seus muros forem pintados de “preto, de operário, de povo”. Ou, talvez, continuarão a reclamar de tudo e a crer que ter um colega negro em uma turma de 30 alunos é mesmo apenas uma coincidência.




terça-feira, 19 de março de 2013

De aluno pra aluno

O Prêmio Controversas de Reportagem mostrou que veio para ficar



CARINA LAMONATTO



Entre fazer o regulamento do prêmio, vender muita rifa para garantir a premiação material e decidir quais seriam os presentes mais interessantes para os futuros jornalistas vencedores, a ideia de Mário Cajé ia saindo do papel. O inovador prêmio de reportagem universitária foi abraçado pelos outros alunos do projeto de extensão, que tiveram toda a dedicação recompensada ao ver o brilho nos olhos dos três vencedores, anunciados no último dia do Controversas Grande Reportagem.

Sob a difícil missão de escolher as três melhores reportagens do primeiro Prêmio Controversas, o júri foi composto pelo ex-aluno da UFF e atual repórter do Valor Econômico Rafael Rosas, a professora Renata Rezende e o professor João Batista de Abreu, que anunciou os grandes vencedores da noite.

No primeiro anúncio uma surpresa: de tantas boas reportagens inscritas, o júri concedeu uma Menção Honrosa a Evandro Silva pela reportagem “Uma alegoria da caverna, no Morro do Vidigal”. A reportagem emocionante sobre um senhor que mora literalmente em uma caverna no Vidigal foi publicada no Cadernos de Reportagem.

Abrindo o envelope em suspense digno de grandes premiações, João Batista anunciou que a reportagem “Onde estão eles?” de Elena Baptista Wesley ficou em terceiro lugar. A aluna do quinto período fez um pequeno discurso agradecendo aos amigos que, com ela, trouxeram de volta o jornal O Casarão, onde a matéria está publicada (e pode ser conferida online). Elena contou que houve incentivo mútuo entre os amigos para que todos se inscrevessem no prêmio. “A gente cobrava um do outro. Eu achava que a minha matéria era muito polêmica e ninguém ia dar muita bola, mas eles insistiram que eu tinha que inscrever” confessou Elena.

Hora de chamar mais um vencedor. “Depois que anunciaram a menção honrosa e o terceiro lugar, eu não achava mais que ganharia alguma coisa”. Essa fala é do descrente Douglas Nascimento, autor da reportagem que ficou em segundo lugar: “Jogo com portões fechados: da oportunidade ao engodo nas peneiras e sonhos do futebol”. O texto será publicado em breve no Cadernos de Reportagem e estará na próxima edição do Casarão.

“Ele não chegava. Estava achando que ia ter que receber o prêmio em nome dele. Quando me chamaram e eu fui lá pra frente ele estava entrando e sentando”. A preocupação de Elena era com Gustavo Cunha. Ela ainda não sabia, porém, que ele seria o autor da reportagem escolhida em primeiro lugar pelo júri. Gustavo se inscreveu no último dia do prazo, por insistência dos amigos que concordavam que a reportagem “Ame-o e deixe-o ir aonde quiser” era muito boa e merecia participar do prêmio. O texto também estará na próxima edição do jornal O Casarão.

Além do certificado emitido pelo Departamento de Comunicação Social, houve também uma premiação material. Para garantir essa premiação, os alunos do Projeto de Extensão e a professora Larissa Morais venderam rifas e os sorteios foram realizados nos intervalos entre as mesas do Controversas. No primeiro dia, a vencedora do sorteio de um cartão presente no valor de R$ 100,00 na Livraria Saraiva foi Camila Lanes. No segundo dia o sorteio foi de um jantar para duas pessoas no Mocellin Churrascaria, e o vencedor foi João Coutinho.

Elena faturou o livro “Dez reportagens que abalaram a ditadura” de Fernando Molica, Douglas levou para casa um gravador de voz Sony e Gustavo ganhou um e-reader Amazon Kindle.

Porém, os três vencedores concordaram que o mais importante de existir um prêmio desse tipo na universidade é incentivar a produção dos alunos através do reconhecimento. “Muitas vezes a gente escreve uma reportagem que dá trabalho, e acaba não sendo publicada em nenhum lugar, fica por aquilo mesmo. Um prêmio como esse é um reconhecimento, incentiva as pessoas a escreverem reportagens de qualidade para serem reconhecidas. Muita gente faz muita coisa boa na universidade que as pessoas não conhecem” explicou o vencedor do primeiro lugar, Gustavo Cunha.

Os textos com temáticas totalmente diferentes mostraram que o Prêmio Controversas de Reportagem é plural e surpreendente. Para as próximas edições, as categorias de fotografia, rádio e TV devem ser incluídas.




sexta-feira, 15 de março de 2013

Estudantes de Jornalismo discutem sobre a profissão em série de debates

Quinta edição do Controversas levou grandes nomes ao auditório Macunaíma

CAROLINA MEDEIROS

A quinta edição do Controversas, realizada nos dias 4, 5 e 6 de março, contou com a presença de mais de 140 pessoas, já no primeiro dia. Com o tema ‘Grande Reportagem – O Jornalismo que não cabe em 140 caracteres’, o evento discutiu o dia-a-dia dos profissionais da área que se dedicam à prática tradicional da profissão.

O tema foi aprovado pelos estudantes, que aproveitaram a oportunidade para conhecer um pouco mais sobre o mercado de trabalho. A estudante Janaína Medeiros participou pela primeira vez do encontro e elogiou o assunto escolhido. “Levaram em consideração a dificuldade em se fazer jornalismo de qualidade no Brasil. Ainda mais com a internet, onde todo mundo se acha um pouco repórter". Janaína, que cursa o primeiro período de Jornalismo, apontou a participação do repórter Geneton Moraes Neto como um dos melhores momentos do Controversas.

Recém formado, pela universidade Estácio de Sá, o jornalista Hebert Maia já havia participado do Controversas. “Gosto de participar destes eventos com profissionais de comunicação. É sempre bom aprender com pessoas que tem mais experiência na área". Trabalhando como freelancer há um ano, Hebert considerou a mesa sobre o assunto uma das mais interessantes. “Deu pra pegar algumas dicas e pensar um pouco sobre nossas práticas no trabalho".

Os alunos de jornalismo não foram os únicos que prestigiaram os debates. A estudante de publicidade Samantha Teixeira acha a interação entre os cursos proveitosa e se interessou principalmente pela oportunidade de conhecer profissionais que estudaram na UFF. “Gostei da escolha dos palestrantes para o ‘Prata da Casa’. É sempre bom ver alunos que se dedicaram e hoje estão bem no mercado".

Para Ana Carolina Mascarenhas, estudante de jornalismo do 7º período, o sucesso do evento se dá pelas histórias compartilhadas pelos profissionais. “Mostra que até os jornalistas renomados passam por alguns sufocos”. Ana destacou a participação da repórter do jornal O Globo, Mariana Filgueiras. “Mesmo com 'pouco tempo' de estrada ela se mostrou uma excelente profissional. Esse ano o Controversas se superou".

quinta-feira, 7 de março de 2013

Os bons filhos ao IACS retornam

Ex-alunos do curso de Jornalismo da UFF relatam experiências no mercado de trabalho e relembram dos tempos de estudantes na universidade

YURI BOBECK




Lembranças, boas histórias, épocas de IACS, tempos de UFF. Foi nesse clima descontraído que a primeira edição de 2013 do Controversas se despediu, com a mesa ‘Prata da Casa’, mediada pelo professor Ildo Nascimento.
 
Seis ex-alunos do curso de Jornalismo da UFF estiveram presentes no auditório Macunaíma nesta quarta-feira, dia 6, para contar suas experiências no mercado profissional, além de recordar suas histórias na universidade.
 
André Ramalho, repórter da revista ‘Brasil Energia’; Luciana Weyne e Robson Sales, repórteres da rádio CBN; Nathalia Vianna, editora do ‘Bom Dia Brasil’, da TV Globo, Thaise Constâncio, assessora na agência de comunicação Cajá, e Luíza Baptista, do portal globo.com, compartilharam suas trajetórias profissionais desde os primeiros estágios e suas memórias afetivas dos tempos recentes de faculdade. “Hoje quando passei de carro pelo IACS bateu aquela saudade”, contou Luciana. Boas recordações também partilhadas por Thaise e Luíza, “bons tempos que deixam saudades”, e também por André Ramalho, “você sai do IACS, mas o IACS não sai de você”.
 
Na rádio CBN desde o ano passado, Robson Sales falou sobre os desafios do dia-a-dia em uma das maiores emissoras de rádio do país. “Você precisa saber de tudo, você cobre tudo, esse é o grande desafio. Se está caindo um temporal você vai pra rua ver o que está acontecendo, e não pra casa”. Nathalia Vianna abordou a responsabilidade de se trabalhar num dos principais telejornais da Rede Globo. “O mais importante é que você precisa ser inventivo, criativo, saber tomar decisões. Saber o que é realmente notícia, e se ela tem relevância local ou nacional”.
 
A editora do ‘Bom Dia Brasil’, assim com os demais ‘pratas da casa’, também deu dicas para aqueles que estão prestes a entrar no mercado de trabalho jornalístico. “Leia muito, procure sempre ter um olhar diferente, e não tenha medo de errar, de recomeçar 79 vezes. É assim que se aprende.”
 
E no encerramento de mais uma edição do Controversas, o professor Ildo Nascimento exibiu um vídeo emocionante com imagens de alunos do curso de Jornalismo da UFF em diferentes fases na universidade, e também uma homenagem à professora Larissa Morais, idealizadora e coordenadora do projeto Controversas.

A opção de ser freelancer

Jornalistas debateram os dois lados da profissão em mesa sobre o mercado sem vínculo
CARINA LAMONATO






“Essa mesa trata de um assunto que interessa a todos os jornalistas, principalmente os iniciantes”. Assim o professor João Batista de Abreu abriu a palestra sobre “O mercado de Freelancer”, no terceiro e último dia do Controversas. Os palestrantes Carlos Vasconcelos, André Arruda e Flávia Tavares falaram sobre os benefícios e os ônus dessa opção profissional. Cezar Faccioli, o quarto convidado, mandou mensagem dizendo que não poderia participar porque estava com um “frila” atrasado. Ossos desse ofício inconstante.

Carlos Vasconcelos contou que ser freelancer foi uma escolha. Ter mais tempo e flexibilidade do que em um emprego fixo foram características que atraíram o jornalista à opção. “Você vai estar sempre aberto para ser freelancer, mesmo se estiver empregado”, explicou Vasconcelos, que apontou a instabilidade profissional e a renda oscilante como principais problemas da vida profissional autônoma. Depois de passar por veículos com Jornal do Brasil, America Economia e Tevê Brasil como funcionário, ele presta serviços para clientes como Petros, Valor Econômico, Ampla e Coca-Cola.





O fotógrafo André Arruda explicou que, para trabalhar desta forma, é necessário ser empreendedor e extremamente competente. “Como freelancer, você tem que atuar melhor do que quem está empregado, que já está na zona de conforto, na zona da mesmice”, disse o ex-fotógrafo do Globo e do Jornal do Brasil.Arruda contou que trabalhos que faz como “frila” financiam alguns projetos pessoais, como o livro “Cem coisas que cem pessoas não vivem sem”, que ele produz desde 2005 e será lançado no final deste ano.

A assessora Flávia Tavares, especializada em grandes eventos, contou que começou no mercado sem vínculo por causa da vontade de fazer o que gostava na maior parte do tempo. Flávia acredita que um dos motivos para ter se destacado foi, além da qualidade do trabalho, sua disponibilidade. “A maior parte das pessoas que pega trabalhos temporários volta ao emprego fixo na primeira oportunidade. Eu não queria isso e pude construir uma boa rede de contatos”, contou.

Embora sejam de áreas diferentes, todos os palestrantes concordaram em uma coisa: é preciso ter uma boa rede de contatos para atuar nesse mercado. André Arruda considera que ter passado por um veículo de porte ajudou tanto no aprendizado como no “network”.  Para Flávia Tavares, participar como voluntário em grandes eventos é uma oportunidade para ampliar a rede de relacionamentos profissionais quando ainda se é estudante. “É um grande desafio se estabelecer e ser respeitado na profissão”, afirmou.

É necessário gerenciar trabalhos e prazos para entregar um material final de qualidade. Flávia Tavares acredita que trabalha mais do que se estivesse em um expediente normal, pois não há limite de tempo. Para ela, o freelancer está 24 horas por dia trabalhando. Por outro lado, Carlos Vasconcelos disse que não trocaria suas atividades atuais para para ganhar R$ 5mil por mês e ter que fazer pescoção.

O estudante de quarto período Igor Pinheiro, que nunca tinha pensado em ser freelancer, contou que acha interessante ter uma mesa com esse tema no Controversas porque ser freelancer não é uma opção que os estudantes consideram no começo da faculdade. “É uma alternativa que vou considerar daqui pra frente”.

5ª edição do Controversas tem estreia com clima descontraído e participação dos alunos

MARIA EDUARDA CHAGAS


“Vamos dar início ao Controversas. Como esta é uma universidade federal, todos de pé para cantar o hino!”. O público que quase lotava o auditório Macunaíma da Universidade Federal Fluminense levantou-se achando estranho aquele pedido inusitado. Os primeiros acordes do hino nacional soaram, mas logo em seguida deram lugar à canção do Botafogo. Tratava-se de uma piada do professor Ildo Nascimento, alvinegro doente. Assim iniciou-se a quinta edição do Controversas nesta segunda-feira (4), cujo tema é Grande reportagem: jornalismo que não cabe em 140 caracteres.

Esse clima de descontração marcou o primeiro dia do evento promovido pelo setor de Jornalismo, sob coordenação da professora Larissa Morais, com o apoio de 14 alunos matriculados em uma Atividade de Projeto de Extensão e de professores do curso. Os convidados falaram sem pudores sobre sua vida profissional e o mercado de trabalho. Além disso, contaram casos e deram dicas para os futuros jornalistas que compunham a plateia.

A mesa de estreia discutiu a Reportagem Investigativa e contou com a participação de Alan Gripp (chefe de redação da Folha de S. Paulo), Elvira Lobato (recém-aposentada, fez carreira na Folha) e Francisco Regueira (repórter investigativo do Fantástico). Os jornalistas falaram dos desafios e dos métodos para a realização de uma reportagem mais aprofundada. As novas tecnologias e a invasão de privacidade das fontes agitaram o debate e suscitaram muitas perguntas dos estudantes.

O aluno do segundo período do curso de jornalismo, João Pedro Soares, foi um dos interessados pelo tema. Ele perguntou sobre o uso da câmara oculta. Frequentador estreante do Controversas, o estudante disse ter gostado bastante do primeiro dia do evento. “É uma oportunidade de ver esses caras que estão há muito tempo no mercado falando sobre a área”, explicou. Soares acrescentou ainda que essa interação é muito importante para eles, que questionam e refletem sobre o que vivenciam diariamente, e para os alunos, que podem conhecer um pouco mais da rotina de trabalho na profissão que escolheram.

Depois da primeira mesa, um coffee break bem agitado e recheado foi mais uma oportunidade de os alunos interagirem entre si e com os profissionais. O hall de entrada do auditório ficou lotado de pessoas trocando ideias enquanto faziam uma boquinha.
Depois, o sorteio da rifa e de livros da editora UFF deixaram a plateia bem animada e arrancou risos e aplausos do público antes do início da segunda mesa de debate do dia, cujo tema foi Cobertura de Grandes Eventos. Com participação de Aydano André Motta, Dario Leite, Paulo Henrique Ferreira e Fabiana Guimarães, o debate teve como foco o papel e a atuação do jornalista em acontecimentos como a Copa do Mundo, as Olimpíadas, o Carnaval e o Rock in Rio.

Um ponto interessante dessa mesa foi a presença da assessora de imprensa da Approach, Fabiana Guimarães. Com uma apresentação de Power Point bem organizada, ela fez o contraponto com os jornalistas e mostrou os desafios e resultados do seu trabalho de assessoria de um dos principais eventos de música do país.

Muito participativos, os alunos faziam anotações e questionaram os convidados acerca de vários temas. No entanto, essa mesa teve apresentações iniciais mais longas e restou um tempo reduzido para as perguntas no final.
Um dos destaques dessa abertura do Controversas foi a exibição do vídeo sobre o jornal O Casarão. Criada na década de 1990, a publicação realizada por estudantes da UFF tinha uma boa aceitação na época. O próprio jornalista Alan Gripp, ex-aluno da faculdade, comentou ao iniciar sua fala de apresentação “Já fiz muitas matérias para O Casarão”. Depois de algum tempo desaparecido da universidade, o jornal retornou com força total em 2012.
O vídeo arrancou boas risadas e muitos aplausos do público. Gustavo Cunha, um dos idealizadores do projeto comentou que ainda não tinha visto o filme editado e gostou do resultado. “A importância do vídeo é fazer as pessoas conhecerem O Casarão e chamá-las a participarem”, disse. Fica lançado o convite.
 

quarta-feira, 6 de março de 2013

Arte do bom texto e a apuração especial

Geneton Moraes Neto e Renata Chiara destacam os elementos fundamentais para uma boa entrevista e uma grande reportagem

JOÃO FILIPE PASSOS



Bem humorado e costurando conselhos com memórias da profissão, o jornalista da GloboNews Geneton Moraes Neto foi enfático ao público do segundo dia do Controversas: “para agradar a nova classe C, houve um empobrecimento enorme do texto jornalístico, principalmente na TV. Entre o texto tradicional e a excessiva informalidade, existe hoje um texto que se assemelha a um monstro disforme”.

Com 40 anos de profissão – Geneton ingressou no jornalismo com apenas 16 anos, no Diário de Pernambuco – e considerado um dos principais entrevistadores brasileiros, ele lembrou da importância da leitura para os futuros profissionais. “O jornalista tem que ter o compromisso de lutar contra o empobrecimento do texto, e isso se combate lendo. Só escreve bem quem lê muito”, destacou Geneton.

Para a plateia de quase 150 pessoas, que ouvia atentamente as dicas do experiente repórter, Geneton ressaltou também que o bom entrevistador é alguém necessariamente desconfiado. “A entrevista é a matéria prima, o ponto de partida de qualquer reportagem. Ela tem que ser necessariamente um instrumento de prospecção e revelação sobre o entrevistado. Não pode ser aquela coisa congratulatória com alguém, famoso ou não”.

Geneton criticou também os entrevistadores que se deixam contaminar por preferências ideológicas no momento de exercer a profissão. “Tem que ter interesse jornalístico igual em relação ao George W. Bush e ao Fidel Castro”, defendeu o jornalista que, entre outros, já entrevistou os generais Nilton Cruz e Leonida Pires e, na ponta oposta, o ex-líder comunista Luís Carlos Prestes.

Mas e quando o entrevistado está mal humorado ou é uma pessoa monossilábica? “A melhor maneira de ganhar o entrevistado é mostrando conhecimento sobre ele. É preciso pesquisar sobre o entrevistado. A tática de deixar a pergunta mais incomoda por último também sempre funciona”, garantiu Geneton.

A produtora do Fantástico (TV Globo) Renata Chiara, que completou a mesa, apontou que o que define uma reportagem especial é a sua própria construção. “A reportagem especial não se reflete no resultado da matéria, mas no processo como ela é feita. As conclusões devem ser feitas após sair à rua, nunca antes”, explicou.

E, nesse processo, uma profunda apuração é fundamental.“A reportagem especial tem o desafio de invariavelmente não ser mais do mesmo. Você tem que se perguntar como fazer algo diferente, que chame a atenção das pessoas. Apuração nunca é demais e nunca é suficiente”, afirmou.
“Eu sou um bicho de televisão”, brincou Renata, explicando que nesse veículo todo o fazer é compartilhado. “Eu me sinto muito confortável nessa autoria compartilhada das matérias. As vezes é um pouco frustrante, por discordâncias com a equipe, mas é sempre um processo que te leva pra frente, pra fazer melhor”.

Mesmo com um longo processo de pré-produção, a reportagem especial para a televisão sempre convive com o inesperado. “Dar errado é parte da brincadeira. Tem sempre o imprevisível, um equipamento que falha”, concluiu.

Convidados ressaltam importância do simples em debate sobre literatura no jornalismo

Participantes do segundo dia de Controversas falam sobre a importância da apuração e da simplicidade nos textos
 
DANIELE BARBOSA





 O simples é mais. Esta foi a ideia compartilhada entre todos os convidados da mesa “Jornalismo e Literatura”, de mais um dia de “Controversas”. Plínio Fraga, até recentemente repórter do Segundo Caderno do jornal O Globo, abriu a noite contando que “penou” até entender que o objetivo e direto, em alguns momentos, são insubstituíveis. A apuração incansável, que também foi ressaltada por Fraga, está entre os itens essenciais para uma boa matéria para Mariana Filgueiras, repórter da revista O Globo, e Isabel Clemente, editora da Revista Época.

 Fraga começou o debate falando sobre a importância da informação. “Informação é poder”, afirmou. O jornalista lamentou o fato de, atualmente, muitos estudantes de jornalismo não lerem jornal e explicou que estar informado pode chamar a atenção do repórter para detalhes importantes de uma pauta.


 A necessidade de se conviver com um personagem para produzir um bom texto de perfil foi exaltada pelos três convidados. “Não adianta, em uma hora de conversa por telefone você não conhece a pessoa”, explicou Isabel Clemente.

 Isabel foi categórica: “Vai lá que você vai descobrir alguma coisa”, afirmou a respeito de pautas que algumas vezes são menosprezadas pelos repórteres. Para Mariana Filgueiras, é saindo nas ruas que se constroem boas histórias. Ela contou que o sucesso da matéria “P.S.: Eu te amo”, que teve cerca de 40 mil curtidas no Facebook, se deu porque não teve preguiça de ir ao local. Ela estava a noites praticamente sem dormir para fazer uma matéria sobre a noite jovem no Rio quando soube que, numa roda de leitura promovida por um sebo, seria devolvido um livro ao autor de uma dedicatória espetacular. Percebeu que a pauta era ótima e não titubeou. “Foi uma emoção ouvir a história de amor daquela dedicatória da boca daquele senhor. O fotógrafo e eu choramos horrores”, contou.
 
A passagem pelo chamado “hard news”, pela cobertura de notícias factuais, das editorias de Política, Cidade e Economia, foi um caminho percorrido por todos os participantes. Ambos falaram sobre a importância do furo, considerado por Isabel o que movimenta a máquina do jornalismo e dá credibilidade. Na opinião de Mariana Filgueiras, no jornalismo literário, o furo acontece quando você consegue enxergar uma boa história em um acontecimento aparentemente cotidiano.
 
O texto de qualidade é um dos principais atributos de uma boa reportagem. Segundo Isabel, não conseguir prender o leitor significa perdê-lo. Mariana contou que, ao escrever, pensa o tempo todo em formas de seduzir quem está lendo. Ao ser questionado sobre como faz para tornar um político interessante, Plínio Fraga disse acreditar que fazer um bom texto pode ser mais importante que ter um bom personagem. Para isso, ele está sempre atento ao comportamento do entrevistado durante a entrevista. 

segunda-feira, 4 de março de 2013

Duas faces da mesma moeda


Segunda mesa de debates explora diferentes aspectos da cobertura de um grande evento 
 
 
ANDRÉ COELHO
 

Nem tudo são flores em uma cobertura de um grande evento. Para que o espectador veja toda a beleza de uma olimpíada ou de uma copa do mundo, é preciso uma estrutura e um trabalho intenso para organizar um conteúdo de alto nível. A questão foi levantada pelos convidados da mesa de Grandes Eventos, segunda rodada de debates do primeiro dia do Controversas.

Para o jornalista Paulo Henrique Ferreira, do Lance!, é necessário que haja senso critico por parte de quem constrói a mídia no Brasil. “Com a proximidade dos grandes eventos, que são oportunidades profissionais únicas devido à sua raridade, um critério apurado é ferramenta importante”.

Outro ponto abordado foi a questão dos direitos de transmissão dos jogos. Para ele, a disputa entre emissoras de TV é algo que merece atenção durante a organização. Ferreira acredita que a cobertura será concentrada em quem tem os direitos e haverá, também, muita replicação de conteúdo. Mesmo assim, a produção precisa ser sustentável ao longo do tempo. “Isso inclui o bom uso de recursos, essencialmente, pensando em construir uma cobertura que não transforme o Jornalismo em entretenimento”, disse. Logo, é importante definir bem o limite entre os dois modos de produção.

Dario Leite, da Rede Record, destaca que sua emissora criou um sistema de cobertura específico para grandes eventos, o que inclui o deslocamento de centenas de profissionais para o exterior. Esse processo precisa contar com o apoio da estrutura construída pelos países sedes destinada aos jornalistas. “Uma emissora como a Record precisa ir umas quatro vezes ao exterior para monitorar essas estruturas. Isso tudo requer dinheiro, tempo, organização e um pensamento direcionado ao tipo de cobertura que será feita” afirmou Dario.

Mas o conceito de grande evento não se resume a eventos esportivos. Assessora da Approach, Fabiana Guimarães lembra que o mercado de comunicação se volta, também, a outros tipos de cobertura, como a do festival Rock in Rio, cujo plano de comunicação foi desenvolvido por sua empresa.  

Fabiana afirma que três aspectos são fundamentais para o planejamento da comunicação de um festival como esse: trabalhar para manter a marca na mídia ao longo do período que antecede o evento em si, a organização da imprensa e a relação com o público - e seus pedidos bizarros. “Até casamento e batizado já foram solicitados para nós. É muito importante conciliar o trabalho diário com as demandas ocasionais, por mais exóticas que sejam”, brinca. 

O mais experiente da mesa, Aydano André Motta, do Jornal O Globo, conta que cobre carnavais há 26 anos. Motta acredita que o carnaval carioca é um evento maior que eventos esportivos ou até mesmo o Rock in Rio. “Só na avenida são 48 mil pessoas desfilando e a bandidagem envolvida na organização também é enorme”. 

De acordo com o jornalista, para entender esses tipos de acontecimentos, é importante enxergar além do aspecto visual. “Não basta analisar a copa e a olimpíada do Rio isoladamente. Temos que considerar aspectos como a especulação imobiliária vivida pela região, por exemplo. Nada justifica o aumento absurdo dos preços dos imóveis do Rio e esse impacto tem que ser levado em conta. Não há grande evento que justifique altos preços de obras de infraestrutura – como a do Maracanã – e a destruição, por exemplo, de sítios arqueológicos” disse Motta. 

Uma cobertura jornalística precisa englobar mais do que o evento em si. Ela precisa ser abrangente ao ponto de transmitir ao público um panorama sobre o processo de construção daquele acontecimento, ao mesmo tempo em que mostra a realidade vivida por uma população antes e depois de sua organização. É o que pensam os debatedores, na esperança de que a ideia seja seguida pelas redações. 

O poder e os limites do repórter investigativo


Jornalismo de investigação abre Controversas 2013 com foco na clássica polêmica dos limites da reportagem

MÁRIO CAJÉ
FOTOGRAFIA: BIANCA RANGEL 

“É chato, dá trabalho, é difícil e exige especialização. Mas é cada vez mais valorizado e bem remunerado nas redações porque agrega muito valor ao produto”. Esse é o jornalismo investigativo – tema da mesa de abertura do Controversas – na visão do editor da Folha de São Paulo Alan Gripp. Sob a batuta do professor Márcio Castilho, os debates também reuniram Elvira Lobato (ex-repórter especial da Folha de São Paulo e autora) e Francisco Regueira (repórter investigativo do Fantástico).

A preocupação com a atual dependência da tecnologia esteve presente nas falas de todos os palestrantes. “A tecnologia facilitou o jornalismo, mas ela é apenas um instrumento. Sempre gostei de ir para a rua”, disse Elvira Lobato, que também acha que o repórter investigativo é um predestinado: “Isso nasce com a pessoa, que vai em busca de respostas que não foram dadas, desconfia sempre, não se conforma com o primeiro argumento e tem uma curiosidade diferenciada. É um cara que quer saber o que tem atrás da primeira montanha. É um chato para o bem”.

Auditório lotado na mesa de abertura do Controversas
Além do problema que Francisco Regueira chama de escravidão tecnológica, o jornalismo investigativo envolve muitas outras questões delicadas. Os métodos de apuração, algumas vezes controversos, são o melhor exemplo. “A câmera oculta é o último recurso. Só é usada quando não é possível usar uma convencional. É claro que nunca se comete um crime para provar outro. Não ultrapassamos esse limite”, argumenta Regueira, que deu exemplos – que chamou de “extremos” – de quando o recurso precisou ser empregado.

Com câmeras e gravadores na palma da mão, essa discussão tende a se tornar cada vez mais cotidiana. Há alguns anos, as telas de celulares de alguns ministros foram fotografadas por jornalistas, revelando trocas de mensagens particulares, o que se configura como invasão de privacidade. “Depois de conversar com o departamento jurídico, chegamos à conclusão de que nesse caso prevaleceu o interesse público e a matéria saiu”, explicou Gripp.

A discussão dos limites do jornalismo investigativo e o – já gasto, para alguns - argumento do interesse público monopolizou os debates. “Acho que às vezes se cai num denuncismo, sem mostrar as estruturas que estão por trás de tudo. Até que ponto essa preocupação é real?”, perguntou João Pedro Soares, aluno do segundo período.

Para quem se acha vocacionado para a área, a mesa deixou preciosas dicas: se preparar cada vez mais cedo e mais rápido, buscar domínio técnico das diversas áreas de investigação, ter um método organizado de trabalho, e, principalmente, ter muita paciência.

“O jornalista tem que estar atento o tempo todo porque a informação chega de diversas maneiras. É o tipo de jornalismo mais estressante porque nem sempre as pautas rendem, mas isso não anula o esforço que foi feito”, explica Lobato. “Nas reportagens para tevê, é preciso reunir imagens. Muitas vezes, onde a apuração para um veículo impresso estaria terminando, a nossa estaria começando. Precisamos do flagrante, que requer tempo, gasto de sola de sapato. De 10 tiros, às vezes, dois dão certo”, completa Regueira, alertando os futuros profissionais no auditório lotado.

Aluna pergunta sobre os limites da utilização de câmaras ocultas




Investigar é preciso

Mesa sobre reportagens investigativas abre principal evento de debates do curso de Jornalismo da UFF

YURI BOBECK

Nos manuais de redação dos principais veículos de comunicação lá está a definição de jornalismo investigativo: prática de reportagem especializada em desvendar mistérios e fatos ocultos da opinião pública, especialmente crimes e casos de corrupção. Fechando os olhos e pensando rapidamente, alguns casos vêem logo à cabeça: Collor, PC Farias, Mensalão, Sangussuga, Aloprados, e por aí vai, numa lista sem fim.

Alan Gripp, Antônio Werneck, Elvira Lobato e Francisco Regueira participam do debate nesta segunda-feira

Hoje damos graças por viver num Brasil com o direito à liberdade de expressão, porém ainda longe de uma democracia plena. A pergunta que se faz é: como seriam retratados, investigados os casos citados nos ‘anos de chumbo’? Será que mensalões e sanguessugas seriam denunciados e amplamente divulgados pela mídia?

O fato é que mesmo que ainda poucos ou nenhum dos envolvidos em ‘crimes do colarinho branco’ sejam efetivamente punidos, o jornalismo investigativo está presente para fazer seu papel, seja para desvendar casos dos mais absurdos, seja para alertar a sociedade.

E na primeira edição de 2013 do Controversas, quatro profissionais da área têm presença confirmada para contarem suas histórias, relatarem suas experiências e compartilhar seu conhecimento: os jornalistas Alan Gripp, do jornal Folha de S.Paulo, e Antônio Werneck, do jornal O Globo, a autora Elvira Lobato, e ainda o repórter investigativo Francisco Regueira, do ‘Fantástico’, da TV Globo.

Quatro figuras da categoria, quatro carreiras dedicadas à investigação, e certamente muitas histórias e experiências para contar. O debate será nesta segunda, dia 4 de março, a partir das 16h, no Auditório Macunaíma, no campus do Gragoatá, em Niterói.

Seis mesas para discutir o jornalismo que não cabe em 140 caracteres


Semana de Jornalismo da UFF vai debater a prática tradicional da profissão

CARINA LAMONATO


Equipe do Controversas


Para abrir o Controversas que discutirá o jornalismo que não cabe em 140 caracteres, nada melhor do que uma prática que demanda tempo e cuidado dos jornalistas: a Reportagem Investigativa. Alan Gripp e Elvira Lobato, que já ganharam o Prêmio Esso em 2007 e 2008 respectivamente, estão entre os convidados desta mesa que terá a mediação do professor Márcio Castilho.

Ainda no primeiro dia, os palestrantes da segunda mesa trazem as visões de diferentes coberturas de grandes eventos. Carnaval, futebol, e o maior festival de música do Brasil estão na pauta do debate da mesa que conta com nomes como Aydano André Mota, doO Globo, e Dario Leite, da Record.

Jornalismo e Literatura é o tema da mesa que abre o segundo dia de Controversas. Isabel Clemente, Plínio Fraga e Mariana Filgueiras vão debater essa nova forma de fazer jornalismo. Com mediação da professora Denise Tavares, a mesa promete mostrar um pouco mais da emoção que o jornalismo pode conter. Geneton Moraes Neto, Regina Zappa e Renata Chiara são os palestrantes da mesa “A Arte da Entrevista e a Reportagem Especial”. Os convidados contarão suas experiências sob a mediação de Carla Baiense.

O último dia do evento começa com uma mesa que traz um novo olhar a um caminho não muito lembrado nos sonhos jornalísticos: O Mercado de Freelancer. Jornalistas freelancers de diferentes áreas discutirão como é possível ganhar a vida sem um emprego fixo.

E para fechar o Controversas, a já tradicional mesa de Prata da Casa traz ex-alunos que estão fazendo sucesso fora dos portões da UFF. Este ano, os convidados são André Ramalho, Luciana Weyne, Nathalia Vianna, Robson Salles e Thaise Constancio que contarão as experiências da vida pós-diploma.

O retorno dos bons filhos


Ex-alunos do IACS voltam à UFF para participar da quinta edição do Controversas

ANDRÉ COELHO

Diz o ditado que “um bom filho a casa torna”. Por mais que essa não seja uma regra universal, quem participar do terceiro dia do Controversas vai ver que muita gente boa que passou pelo IACS volta, sim, para prestigiar a universidade na qual se formaram.


A última mesa do evento, marcada para a quarta-feira, dia 6, vai reunir jornalistas formados na UFF para um debate sobre suas carreiras no mercado de comunicação carioca após suas passagens pelo casarão da Rua Lara Vilela.

Os convidados desta edição serão os repórteres André Ramalho (da revista Brasil Energia), Luciana Webler Weyne e Robson Sales (ambos da CBN), Nathália Almeida Vianna (editora do Bom Dia Brasil, da Rede Globo) e Thaise Constâncio (da Cajá – Agência de Comunicação).

A mesa será mediada pelo professor Ildo Nascimento e será das 19h às 21h, no auditório Macunaíma, no campus Gragoatá.