Jornalismo de investigação abre Controversas 2013 com foco na clássica
polêmica dos limites da reportagem
MÁRIO CAJÉ
FOTOGRAFIA: BIANCA RANGEL
FOTOGRAFIA: BIANCA RANGEL
“É chato, dá trabalho, é difícil
e exige especialização. Mas é cada vez mais valorizado e bem remunerado nas
redações porque agrega muito valor ao produto”. Esse é o jornalismo
investigativo – tema da mesa de abertura do Controversas – na visão do editor
da Folha de São Paulo Alan Gripp. Sob a batuta do professor Márcio Castilho, os
debates também reuniram Elvira Lobato (ex-repórter especial da Folha de São
Paulo e autora) e Francisco Regueira (repórter investigativo do Fantástico).
A preocupação com a atual
dependência da tecnologia esteve presente nas falas de todos os palestrantes. “A
tecnologia facilitou o jornalismo, mas ela é apenas um instrumento. Sempre
gostei de ir para a rua”, disse Elvira Lobato, que também acha que o repórter
investigativo é um predestinado: “Isso nasce com a pessoa, que vai em busca de
respostas que não foram dadas, desconfia sempre, não se conforma com o primeiro
argumento e tem uma curiosidade diferenciada. É um cara que quer saber o que
tem atrás da primeira montanha. É um chato para o bem”.
Auditório lotado na mesa de abertura do Controversas |
Além do problema que Francisco
Regueira chama de escravidão tecnológica, o jornalismo investigativo envolve
muitas outras questões delicadas. Os métodos de apuração, algumas vezes controversos, são o melhor exemplo. “A câmera oculta é o último recurso. Só é
usada quando não é possível usar uma convencional. É claro que nunca se comete
um crime para provar outro. Não ultrapassamos esse limite”, argumenta Regueira,
que deu exemplos – que chamou de “extremos” – de quando o recurso precisou ser empregado.
Com câmeras e gravadores na palma
da mão, essa discussão tende a se tornar cada vez mais cotidiana. Há alguns
anos, as telas de celulares de alguns ministros foram fotografadas por
jornalistas, revelando trocas de mensagens particulares, o que se configura
como invasão de privacidade. “Depois de conversar com o departamento jurídico,
chegamos à conclusão de que nesse caso prevaleceu o interesse público e a
matéria saiu”, explicou Gripp.
A discussão dos limites do
jornalismo investigativo e o – já gasto, para alguns - argumento do interesse
público monopolizou os debates. “Acho que às vezes se cai num denuncismo, sem
mostrar as estruturas que estão por trás de tudo. Até que ponto essa
preocupação é real?”, perguntou João Pedro Soares, aluno do segundo período.
Para quem se acha vocacionado
para a área, a mesa deixou preciosas dicas: se preparar cada vez mais cedo e
mais rápido, buscar domínio técnico das diversas áreas de investigação, ter um
método organizado de trabalho, e, principalmente, ter muita paciência.
“O jornalista tem que estar
atento o tempo todo porque a informação chega de diversas maneiras. É o tipo de
jornalismo mais estressante porque nem sempre as pautas rendem, mas isso não
anula o esforço que foi feito”, explica Lobato. “Nas reportagens para tevê, é preciso reunir imagens. Muitas vezes, onde a apuração para um veículo impresso estaria terminando, a nossa estaria começando. Precisamos do flagrante,
que requer tempo, gasto de sola de sapato. De 10 tiros, às vezes, dois dão
certo”, completa Regueira, alertando os futuros profissionais no auditório
lotado.
Aluna pergunta sobre os limites da utilização de câmaras ocultas |
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