Geneton Moraes Neto e Renata Chiara destacam os elementos fundamentais para uma boa entrevista e uma grande reportagem
JOÃO FILIPE PASSOS
Bem humorado e costurando conselhos com memórias da profissão, o jornalista da GloboNews Geneton Moraes Neto foi enfático ao público do segundo dia do Controversas: “para agradar a nova classe C, houve um empobrecimento enorme do texto jornalístico, principalmente na TV. Entre o texto tradicional e a excessiva informalidade, existe hoje um texto que se assemelha a um monstro disforme”.
Com 40 anos de profissão – Geneton ingressou no jornalismo com apenas 16 anos, no Diário de Pernambuco – e considerado um dos principais entrevistadores brasileiros, ele lembrou da importância da leitura para os futuros profissionais. “O jornalista tem que ter o compromisso de lutar contra o empobrecimento do texto, e isso se combate lendo. Só escreve bem quem lê muito”, destacou Geneton.
Para a plateia de quase 150 pessoas, que ouvia atentamente as dicas do experiente repórter, Geneton ressaltou também que o bom entrevistador é alguém necessariamente desconfiado. “A entrevista é a matéria prima, o ponto de partida de qualquer reportagem. Ela tem que ser necessariamente um instrumento de prospecção e revelação sobre o entrevistado. Não pode ser aquela coisa congratulatória com alguém, famoso ou não”.
Geneton criticou também os entrevistadores que se deixam contaminar por preferências ideológicas no momento de exercer a profissão. “Tem que ter interesse jornalístico igual em relação ao George W. Bush e ao Fidel Castro”, defendeu o jornalista que, entre outros, já entrevistou os generais Nilton Cruz e Leonida Pires e, na ponta oposta, o ex-líder comunista Luís Carlos Prestes.
Mas e quando o entrevistado está mal humorado ou é uma pessoa monossilábica? “A melhor maneira de ganhar o entrevistado é mostrando conhecimento sobre ele. É preciso pesquisar sobre o entrevistado. A tática de deixar a pergunta mais incomoda por último também sempre funciona”, garantiu Geneton.
A produtora do Fantástico (TV Globo) Renata Chiara, que completou a mesa, apontou que o que define uma reportagem especial é a sua própria construção. “A reportagem especial não se reflete no resultado da matéria, mas no processo como ela é feita. As conclusões devem ser feitas após sair à rua, nunca antes”, explicou.
E, nesse processo, uma profunda apuração é fundamental.“A reportagem especial tem o desafio de invariavelmente não ser mais do mesmo. Você tem que se perguntar como fazer algo diferente, que chame a atenção das pessoas. Apuração nunca é demais e nunca é suficiente”, afirmou.
“Eu sou um bicho de televisão”, brincou Renata, explicando que nesse veículo todo o fazer é compartilhado. “Eu me sinto muito confortável nessa autoria compartilhada das matérias. As vezes é um pouco frustrante, por discordâncias com a equipe, mas é sempre um processo que te leva pra frente, pra fazer melhor”.
Mesmo com um longo processo de pré-produção, a reportagem especial para a televisão sempre convive com o inesperado. “Dar errado é parte da brincadeira. Tem sempre o imprevisível, um equipamento que falha”, concluiu.
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