Segunda mesa de debates explora diferentes aspectos da cobertura de um grande evento
ANDRÉ COELHO
Nem tudo são flores em uma cobertura de um grande evento. Para que o espectador veja toda a beleza de uma olimpíada ou de uma copa do mundo, é preciso uma estrutura e um trabalho intenso para organizar um conteúdo de alto nível. A questão foi levantada pelos convidados da mesa de Grandes Eventos, segunda rodada de debates do primeiro dia do Controversas.
Para o jornalista Paulo Henrique Ferreira, do Lance!, é necessário que haja senso critico por parte de quem constrói a mídia no Brasil. “Com a proximidade dos grandes eventos, que são oportunidades profissionais únicas devido à sua raridade, um critério apurado é ferramenta importante”.
Outro ponto abordado foi a questão dos direitos de transmissão dos jogos. Para ele, a disputa entre emissoras de TV é algo que merece atenção durante a organização. Ferreira acredita que a cobertura será concentrada em quem tem os direitos e haverá, também, muita replicação de conteúdo. Mesmo assim, a produção precisa ser sustentável ao longo do tempo. “Isso inclui o bom uso de recursos, essencialmente, pensando em construir uma cobertura que não transforme o Jornalismo em entretenimento”, disse. Logo, é importante definir bem o limite entre os dois modos de produção.
Dario Leite, da Rede Record, destaca que sua emissora criou um sistema de cobertura específico para grandes eventos, o que inclui o deslocamento de centenas de profissionais para o exterior. Esse processo precisa contar com o apoio da estrutura construída pelos países sedes destinada aos jornalistas. “Uma emissora como a Record precisa ir umas quatro vezes ao exterior para monitorar essas estruturas. Isso tudo requer dinheiro, tempo, organização e um pensamento direcionado ao tipo de cobertura que será feita” afirmou Dario.
Mas o conceito de grande evento não se resume a eventos esportivos. Assessora da Approach, Fabiana Guimarães lembra que o mercado de comunicação se volta, também, a outros tipos de cobertura, como a do festival Rock in Rio, cujo plano de comunicação foi desenvolvido por sua empresa.
Fabiana afirma que três aspectos são fundamentais para o planejamento da comunicação de um festival como esse: trabalhar para manter a marca na mídia ao longo do período que antecede o evento em si, a organização da imprensa e a relação com o público - e seus pedidos bizarros. “Até casamento e batizado já foram solicitados para nós. É muito importante conciliar o trabalho diário com as demandas ocasionais, por mais exóticas que sejam”, brinca.
O mais experiente da mesa, Aydano André Motta, do Jornal O Globo, conta que cobre carnavais há 26 anos. Motta acredita que o carnaval carioca é um evento maior que eventos esportivos ou até mesmo o Rock in Rio. “Só na avenida são 48 mil pessoas desfilando e a bandidagem envolvida na organização também é enorme”.
De acordo com o jornalista, para entender esses tipos de acontecimentos, é importante enxergar além do aspecto visual. “Não basta analisar a copa e a olimpíada do Rio isoladamente. Temos que considerar aspectos como a especulação imobiliária vivida pela região, por exemplo. Nada justifica o aumento absurdo dos preços dos imóveis do Rio e esse impacto tem que ser levado em conta. Não há grande evento que justifique altos preços de obras de infraestrutura – como a do Maracanã – e a destruição, por exemplo, de sítios arqueológicos” disse Motta.
Uma cobertura jornalística precisa englobar mais do que o evento em si. Ela precisa ser abrangente ao ponto de transmitir ao público um panorama sobre o processo de construção daquele acontecimento, ao mesmo tempo em que mostra a realidade vivida por uma população antes e depois de sua organização. É o que pensam os debatedores, na esperança de que a ideia seja seguida pelas redações.
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